PHANTASMAGORIA
Subitamente não se via mais a luz do sol, pois
não havia mais noite ou dia, só a penumbra sombria. Muito abaixo do solo havia
outra realidade,e quem para lá descia, nunca mais emergia.Grossas paredes calcarias
de um branco brilhante deixavam-se espelhar
em pequenos rios escuros, e as estalagmites e estalactites coroavam com
suas formas estranhas e frias a complexidade labiríntica daquela caverna sem
fim. A umidade imperava por toda a parte, assim como o frio.
O brilho dos cristais que cresciam
por toda a parte davam um tom fantasmagórico a aquele ambiente cheio de nuances
e cuja riqueza de detalhes ínfimos lembrava a arquitetura de uma catedral
gótica, mas perdida no tempo, transmitindo uma perene sensação de ser de todo,
atemporal.
Rígor
Mortis então abriu os olhos.As sombras fugidias ,flutuando qual
espectros lhe deu calafrios.
Já de pé, como mais vezes o faria
,perguntava-se se não estaria sonhando
ou tendo algum tipo de alucinação.Não, a realidade não podia ser aquela em que
seus olhos custavam à acreditar!
Parecia que tinha sido há apenas
alguns instantes que andava pelos campos ao sol e foi tragado por um buraco que
ele não vira, mas o que ocorreu depois, ele não conseguia mais se recordar!
Ele começou a caminhar pelo chão algo
úmido e escorregadio e estava assustado.A imensidão dos salões e corredores
parecia não ter fim, e ao olhar para o alto , o teto parecia a ele tão distante que ele se sentia
diminuído como Ser.O contraste da beleza da luminosidade dos cristais, o brilho
do calcário todo poroso,a escuridão dos rios subterrâneos,o silêncio, a
sensação do tempo ter parado, da grandiosidade do lugar à pequenez humana comparado , tudo ali lhe
era estranho e assustador !
Eis que a ignorância do que está por
vir aterroriza mais do que a consciência dos fatos, ausência que sugere uma
presença que nunca aparece, ausência que nos coloca de sobreaviso, ausência que
não somos capazes de dominar, posto que o verdadeiro terror para o Ser Humano,
em toda a sua consciência é a constatação da impotência, e esta leva o
consciente humano à enveredar pelo caminho mais desconhecido e terrível: a
admissão da falibilidade humana perante algo maior, inexplicável,ininteligível,
intangível à inteligência e sentimentos humanos,a angústia de não mais
controlar, explicar, entender!
Rígor caminhava pelos corredores, e
não conseguia achar a saída. Não sabia mais sequer por onde tinha entrado...
Uma curva, uma sombra.Uma sombra
enorme, e quanto mais se aproximava, mais se alongava.
Ele tremia dos pés a cabeça, mas suas
pernas pareciam ter travado num movimento mecânico totalmente independente da
sua vontade!
Olhos vidrados, taquicardia, suor
frio, calafrios, pêlos arrepiados.
Parecia que vinha ao encontro dele um
vento gélido e tétrico, junto a um mau cheiro terrível, uma fetidão
pestanejante como nunca vira antes.
Quando cruzou a curva, e mais um
salão catedrálico apareceu, ele levou um susto:
Uma besta gigante, do tamanho de um
elefante,com garras enormes, espectralmente magra, com olhar desesperado,
tentava subir pelas paredes, e seus mugidos guturais e trovejantes
o fizeram soltar um grito !
Mas o que realmente assustou a Rigor
foi que seu grito não saiu. Estava sem voz! Na sua mente ele tinha gritado, mas
ele não escutara qualquer som!
Mas os urros da besta ecoavam por
todo o salão, e evocavam uma tristeza e um pavor que só a consciência da morte
iminente traz!
Era uma preguiça gigante, e ela olhou
para Rígor.
Ele esfregou os olhos, mal
acreditando no que via.Olhou outra vez, e ao abrir dos olhos nada mais lá havia. Apenas um esqueleto de
tétrica alvura que brilhava, resplandecia.
Fogo fátuo, pensou Rígor Mortis,este
tipo de coisas costuma criar ilusões!
Mas o vento frio que agora açoitava
sua pele já fria,esvoaçava seus cabelos longos, ondulando como vagalhões.
Não, aquilo não era ilusão, mas
porquê tantas sombras,porque tanta fantasia, tantas confusões?
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