terça-feira, 12 de agosto de 2014

Conto: Phantasmagoria-Parte 1



PHANTASMAGORIA



 Subitamente não se via mais a luz do sol, pois não havia mais noite ou dia, só a penumbra sombria. Muito abaixo do solo havia outra realidade,e quem para lá descia, nunca mais emergia.Grossas paredes calcarias de um branco brilhante deixavam-se espelhar  em pequenos rios escuros, e as estalagmites e estalactites coroavam com suas formas estranhas e frias a complexidade labiríntica daquela caverna sem fim. A umidade imperava por toda a parte, assim como o frio.
O brilho dos cristais que cresciam por toda a parte davam um tom fantasmagórico a aquele ambiente cheio de nuances e cuja riqueza de detalhes ínfimos lembrava a arquitetura de uma catedral gótica, mas perdida no tempo, transmitindo uma perene sensação de ser de todo, atemporal.
Rígor  Mortis então abriu os olhos.As sombras fugidias ,flutuando qual espectros lhe deu calafrios.
Já de pé, como mais vezes o faria ,perguntava-se se não estaria   sonhando ou tendo algum tipo de alucinação.Não, a realidade não podia ser aquela em que seus olhos custavam à acreditar!
Parecia que tinha sido há apenas alguns instantes que andava pelos campos ao sol e foi tragado por um buraco que ele não vira, mas o que ocorreu depois, ele não conseguia mais se recordar!
Ele começou a caminhar pelo chão algo úmido e escorregadio e estava assustado.A imensidão dos salões e corredores parecia não ter fim, e ao olhar para o alto , o teto  parecia a ele tão distante que ele se sentia diminuído como Ser.O contraste da beleza da luminosidade dos cristais, o brilho do calcário todo poroso,a escuridão dos rios subterrâneos,o silêncio, a sensação do tempo ter parado, da grandiosidade do lugar  à pequenez humana comparado , tudo ali lhe era estranho e assustador !
Eis que a ignorância do que está por vir aterroriza mais do que a consciência dos fatos, ausência que sugere uma presença que nunca aparece, ausência que nos coloca de sobreaviso, ausência que não somos capazes de dominar, posto que o verdadeiro terror para o Ser Humano, em toda a sua consciência é a constatação da impotência, e esta leva o consciente humano à enveredar pelo caminho mais desconhecido e terrível: a admissão da falibilidade humana perante algo maior, inexplicável,ininteligível, intangível à inteligência e sentimentos humanos,a angústia de não mais controlar, explicar, entender!
Rígor caminhava pelos corredores, e não conseguia achar a saída. Não sabia mais sequer por onde tinha entrado...
Uma curva, uma sombra.Uma sombra enorme, e quanto mais se aproximava, mais se alongava.
Ele tremia dos pés a cabeça, mas suas pernas pareciam ter travado num movimento mecânico totalmente independente da sua vontade!
Olhos vidrados, taquicardia, suor frio, calafrios, pêlos arrepiados.
Parecia que vinha ao encontro dele um vento gélido e tétrico, junto a um mau cheiro terrível, uma fetidão pestanejante como nunca vira antes.
Quando cruzou a curva, e mais um salão catedrálico apareceu, ele levou um susto:
Uma besta gigante, do tamanho de um elefante,com garras enormes, espectralmente magra, com olhar desesperado, tentava subir pelas paredes, e seus mugidos guturais  e trovejantes  o fizeram soltar um grito !
Mas o que realmente assustou a Rigor foi que seu grito não saiu. Estava sem voz! Na sua mente ele tinha gritado, mas ele não escutara qualquer som!
Mas os urros da besta ecoavam por todo o salão, e evocavam uma tristeza e um pavor que só a consciência da morte iminente traz!
Era uma preguiça gigante, e ela olhou para Rígor.
Ele esfregou os olhos, mal acreditando no que via.Olhou outra vez, e ao abrir dos olhos  nada mais lá havia. Apenas um esqueleto de tétrica alvura que brilhava, resplandecia.
Fogo fátuo, pensou Rígor Mortis,este tipo de coisas costuma criar ilusões!
Mas o vento frio que agora açoitava sua pele já fria,esvoaçava seus cabelos longos, ondulando como vagalhões.
Não, aquilo não era ilusão, mas porquê tantas sombras,porque tanta fantasia, tantas confusões?

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