O frescor da manha refletia-se na brisa
suave que acariciava a relva ainda molhada. Pequenos pés saltitavam em meio ao
capim selvagem,pequeninas mãos colhiam flores multicores, pequenos olhos de
olhar estrelado procuravam aflitos por outros olhos que a acompanhavam
atentamente.
Tinham-se passado alguns anos desde que
Rikku nascera, e ela estava saudável e forte.A alegria em seu semblante era
fruto da inocência com que só a ignorância presenteia a alma humana.Não havia
preocupações, nem indagações metafísicas,apenas sinceridade, delicadeza e
sensibilidade ainda em estado puro.
Rikku parou diante do lago que lhe concedera
seu nome, e uma pequena voz saiu de sua estreita garganta:
-Mamãe! Mamãe!Vem cá !
Altas e esguias pernas se aproximaram, e a
mão grande envolveu a pequena.
-Sim, minha filha.O que foi?
-Mamãe, esta
que está no lago não sou eu !
-Não,filha?E´o reflexo da sua imagem,
querida.
-Não sou eu! Eu estou à beira do lago, não
dentro dele!
-Você está enganada, filha. Não existem duas
Rikku, apenas você, e seu reflexo, é como no espelho, você não se vê no
espelho?
-Não mesmo? E esta que esteve em sua barriga?E
depois, aquela que vejo no espelho também não sou eu, pois eu nunca estive
dentro do espelho. Mas já estive na sua barriga, então eu estou nascendo outra
vez! Eu estou sempre nascendo, mamãe!
Aquela moça, de pouco mais de trinta anos de
idade, abraçou então a menina.
-Ah, Rikku! Como você é inteligente!
A mãe estava pensativa, havia muito de
simbólico no que Rikku dissera.E ela entendera perfeitamente o que a filha
tinha querido dizer com aquilo, e emocionou-se.
A calidez do lago lhe dava uma sensação de
paz e tranqüilidade. Sentia-se então mais viva do que nunca! A diferença, porém
entre ela e Rikku, é que a menininha vivia tudo aquilo sem ter uma consciência
plena de si mesma, sem ter preocupações na vida.Ou não?
FIM
Cristiano Camargo
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