domingo, 24 de agosto de 2014

Conto: Inocência



O frescor da manha refletia-se na brisa suave que acariciava a relva ainda molhada. Pequenos pés saltitavam em meio ao capim selvagem,pequeninas mãos colhiam flores multicores, pequenos olhos de olhar estrelado procuravam aflitos por outros olhos que a acompanhavam atentamente.
Tinham-se passado alguns anos desde que Rikku nascera, e ela estava saudável e forte.A alegria em seu semblante era fruto da inocência com que só a ignorância presenteia a alma humana.Não havia preocupações, nem indagações metafísicas,apenas sinceridade, delicadeza e sensibilidade ainda em estado puro.
Rikku parou diante do lago que lhe concedera seu nome, e uma pequena voz saiu de sua estreita garganta:
-Mamãe! Mamãe!Vem cá !
Altas e esguias pernas se aproximaram, e a mão grande  envolveu a pequena.
-Sim, minha filha.O que foi?
-Mamãe, esta  que está no lago não sou eu !
-Não,filha?E´o reflexo da sua imagem, querida.
-Não sou eu! Eu estou à beira do lago, não dentro dele!
-Você está enganada, filha. Não existem duas Rikku, apenas você, e seu reflexo, é como no espelho, você não se vê no espelho?
-Não mesmo? E esta que esteve em sua barriga?E depois, aquela que vejo no espelho também não sou eu, pois eu nunca estive dentro do espelho. Mas já estive na sua barriga, então eu estou nascendo outra vez! Eu estou sempre nascendo, mamãe!
Aquela moça, de pouco mais de trinta anos de idade, abraçou então a menina.
-Ah, Rikku! Como você é inteligente!
A mãe estava pensativa, havia muito de simbólico no que Rikku dissera.E ela entendera perfeitamente o que a filha tinha querido dizer com aquilo, e emocionou-se.
A calidez do lago lhe dava uma sensação de paz e tranqüilidade. Sentia-se então mais viva do que nunca! A diferença, porém entre ela e Rikku, é que a menininha vivia tudo aquilo sem ter uma consciência plena de si mesma, sem ter preocupações na vida.Ou não?

FIM

Cristiano Camargo


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