quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Sensibilidade de Viver: Origens- Episódio 15






Depois como já era hora do jantar, esquentou mais sopa, e cozinhou um macarrão instantãneo para ela.
Depois de servir ao irmão, e ver que a temperatura dele se mantinha estável, próxima da normal, ela lhe deu mais um remedio e um xarope, pois agora ele começava a tossir.
Então desceu para a cozinha e foi jantar.
Era a primeira vez que jantava sozinha assim, e o seu sonho era lembrado a toda hora e com frequencia ela tinha de enxugar as lágrimas.Sofria de saudades e arrependimentos, sem falar nas culpas que a perseguiam.Deprimida, olhou para o bolo, não viu ninguém em volta, apenas sua triste sombra e começou a cantar tristemente:
-Pa...ra...béns...pa...ra..mim...nesta..data...querida...querida...
E explodiu em pranto convulso. Não aguentava mais aquele tormento!Nunca se sentira tão sozinha na vida dela !
-Parabéns para você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida ! Lune ! Lune !Lune !
-Oh, Otaru...Otaru-chaaaaaaan...
Ela viu o irmão ali de pé, atrás dela, com um presentinho na mão e o abraçou como se fosse a última pessoa do mundo ! Aquilo significou muito para ela, e ela estava profundamente comovida !
-Eu te amo, meu irmão ! Te amo muito ! Muito, muito mesmo ,viu? Obrigada, muito obrigada !Vem, vamos comer o bolo ! Só nós dois ! Olha, a primeira fatia é para você !
E ela partiu o bolo ainda enxugando as lágrimas com uma das mãos.
-Eu também te amo, onee-san !Obrigado !Não chora não, é seu aniversário !
Lune continuou emocionada, e ml se contendo, procurou com esforço  disfarçar e mudar de assunto:
-E então, o que você achou do bolo?Olha, eu vou soprar a velinha e você bate palmas, ok?
-Está bom ! O bolo está gostoso !
-Ai, você é um amor de menino, viu?
E Lune lhe deu um beijinho no rosto.
Um pouco mais tarde, após se fartarem de bolo, Lune resolveu que não queria dormir sozinha.
Dormiu com ele , na cama dele, abraçada a ele e os dois rápidamente pegaram no sono.E desta vez não houve sonhos ruins.
Mas durante a madrugada a febre de Otaru voltou e ela ficou lhe dando remédios e banhos e monitorando sua temperatura até que a febre desapareceu, quando o dia já quase raiava.
Quanto a família chegou no dia seguinte, encontraram, surpresos, ela abraçada ao irmão e os dois dormindo tão profundamente que até roncavam !
-Ai, amor, que lindo...eu não acredito...
Disse Momiji, emocionada.
Kazuo, também comivido, coçou os olhos para tirar as lágrimas,mal acreditando no que via, e disse:
-Nossa filha está amadurecendo...lindamente!Como é linda !Vamos deixá-los dormir.
E ele os cobriu com carinho, enquanto Momiji conferia a temperatura de Otaru e viu que estava tudo bem.
-Ela cuidou direitinho dele...como eu faria...que lindo......valeu a pena esta experiência na vida dela !
-Sim, querida ela precisava mesmo desta experiência na vida dela, no fim foi bom par ela...vamos indo, vem...
Eles só acordaram na hora do almoço, e os dois irmãos estavam mais amigos do que nunca !
Ao ver o restante da família, desta feita Lune fez questão de abraçar a todos com força e agradecer, pedindo desculpas por suas brigas.
Mas alguns dias depois, ela voltava a ser a mesma velha Lune de sempre...ou não?
Pode não ser muito, mas alguma coisa tinha de fato mudado naquele coração de menina...
Enfim era chegado o novo dia de consulta.Desta vez era Kazuo que fora esperar por ela na porta da escola.Diferente de Momiji, ele tinha saído do carro e estava de pé e fumando seu velho cachimbo,pensativo, de modo bem discreto.
Logo ele distinguiu a filha na multidão de alunos e alunas que saíam pelos cabelos pintados na cor laranja escuro.
Ela se despediu de Rina, que acenou para Kazuo, e logo s duas se encontraram com  ele.Ele abraçou a filha e cumprimentou Rina com o tradicional cumprimento japonês, inclinando a coluna  para frente e para baixo, e ela respondeu com o mesmo gesto.
-Oi, Kazuo-sempai !Que bom ver o senhor ! Disse Rina alegremente, com um sorriso no rosto e olhar doce por trás dos óculos redondos.
-É um prazer revê-la, Rina-san !Boa tarde !
-Boa tarde, sempai !Bom, eu entrego sua filha de volta para o senhor,mas posso te dizer que tenho cuidado muito bem dela aqui na escola!
-Muito obrigado, Rina-san,sei bem que com você a Lune está em muito boas mãos,grato por cuidar bem de minha filha !
E Kazuo a agradeceu cumprimentando-a no modo clássico japonês como determina a boa educação oriental.
Rina respondeu com o mesmo cumprimento que ele.
E os dois olharam para Lune, cuja expressão mudou da de séria de sempre para emburrada, com um beiço enorme e olhar nervoso.
-Filha, seja educada, por favor cumprimente a Rina em agradecimento a cuidar de você !
-Pai ! Eu não sou criança nem nenhuma incapaz para todo mundo ficar cuidando de mim e me passando de mão em mão, me manipulando ! Eu não compactuo com esta hipocrisia !
Explodiu Lune  com fúria no tom de voz!
Ambos foram pegos de surpresa e uma situação extremamente constrangedora se fez.Lágrimas caíram do rosto de Rina, que, envergonhada e magoada,colocou as mãos no rosto e saiu correndo chorando rua afora.
Lune na verdade não tivera intenção de ser mal educada nem magoar a ninguém,apenas se sentia inferiorizada diante deles e seu complexo de inferioridade gritava em seus neurônios!
Outro pai teria dado uma bela bronca ou mesmo um tapa na cara dela.mas não Kazuo. Ele conhecia muito bem a filha que tinha e sabia as razões de agir assim, então procurou espantar a mágoa do coração e cumprimentou a filha inclinando-se de novo e pediu desculpas  ela:
-Por favor, filha, perdoa seu pai insensato ! Cometi um ato terrível com você, e ainda que mereça,não quero que me odeies, dói ver seu olhar para mim...
Aquelas palavras calaram fundo na alma de Lune, que ficou de olhos rasos e abraçou o pai com força:
-Eu que te peço desculpas, papai...acabei magoando o senhor e a Rina...e ela só quis ser carinhosa comigo, demonstrar como me quer bem...
Kazuo arregalou os olhos,surpreso. Não esperava que ela tivesse consciência disto, achava que ela tinha apenas interpretado mal aqueles gestos sociais e não os tivesse compreendido, e só então lhe veio a cabeça que n mesma idade ele já tinha esta consciência também, e não agia muito diferente dele, ainda que não tenha tido a sorte da filha em ter pais como ele.Mas ele não. os condenava, sabia que fizeram o que era possível dentro dos limites deles.
Com a elegância e educação de sempre, Kazuo abriu a porta de seu carro para filha e fez um gesto para ela entrar.
Lune logo se sentou no luxuoso banco de couro e fechou a porta.
Kazuo logo se sentou no posto de motorista, fechou a porta, ligou o motor e o ar condicionado, e colocou a transmissão automática em "Drive" ,acionou o pisca pisca e acelerou, olhando primeiro se não vinha ninguém.
-Filha, olha, eu sei que é duro ser ainda menor de idade, depender dos pais, mas por favor não se sinta inferiorizada em relação a mim e à Rina. Como você mesma disse, a Rina só quis ser carinhosa com a gente...
-Eu sei, pai, mas foi como eu me senti, entende?

(por continuar)

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