quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Conto: Angústia



O luar jazia cálido e pálido acima do  velho cemitério,deserto e imutável, perene como o tempo.Nimitris estava ajoelhada defronte a lapide de seu pai verdadeiro, Gigas, que ela nunca chegou a conhecer.
O vento estava frio e soprava forte.A guerreira de Fogo,tão poderosa ,intrépida e invicta,que tornara-se uma lenda,revelava seu lado secreto e chorava copiosamente.
Um imenso vazio lhe percorria a alma e seu destino era incerto.
Toda a vida dela ela fora uma militar, educada sob rígida disciplina, e nunca teve privilégios nem tratamentos especiais.Agora se sentia obrigada a cumprir a ultima ordem de seu pai adotivo, tornar-se uma revoltosa.
O peso desta ordem era tanto quanto o peso da falta que seu pai adotivo lhe fazia.Foi com muita dor que fugiu do acampamento após o  enterro de seu tutor.Não gostava de fugir, pois a vida toda lutara, e isto era a única coisa que sabia fazer na vida.O frio lhe parecia mais intenso, e o cemitério mais sombrio. O vento agora uivava furiosamente e lhe atormentava a alma.
Habituada a sempre receber ordens, não estava acostumada a tomar decisões.
Tinha de renunciar a tudo o que acreditava, a tudo que lhe foi ensinado, e lutar ao lado de contra quem sempre lutou.
Ela queria que seu padrasto estivesse ali para ajuda-la a tomar uma decisão, mas a sua dor era saber que se ele estivesse vivo, ele insistiria em seu ultimo desejo.
Então ela sentiu que o vento repentinamente parou. O silencio imperou, sombrio e profundo, e as nuvens esconderam o luar, e as mais tenebrosas trevas se abateram sobre o local.Um odor nauseante de putrefação se fez sentir, e ela caiu desacordada. Não sabia se estava desmaiada ou sonhava.
O que ela sabia era o que ela via através de seus olhos.Ou pensava que via, mais parecia uma visão:
Gases saiam do solo e formaram uma figura humana gigantesca, ainda que muito vaga e imprecisa.
-Acorde!
-Quem e´você?
-Sou Gigas, seu pai.
-Me...me...meu...pai?
-Sim.Estou aqui para te dizer que você não deve mais se angustiar por seu passado, sua criação.Não foi culpa sua ter se tornado um soldado e ter servido ao Império.Eu sabia que você um dia iria servir ao Bem,e que toda a sua experiência de vida seria útil um dia!
-Mas  eu matei tantos revoltosos...
-Também não e´culpa sua.Se quiser culpar a alguém , culpe a ambigüidade humana. E nada e´mais humano do que a Guerra. A única coisa que você deve se lembrar e´que não existe um lado correto e outro errado.Você não deve obedecer a antigos preceitos e conceitos, deve seguir apenas o que o seu coração disser que é o certo.
Nimitris irrompeu em choro.Chorava como se houvesse um enorme peso sendo retirado de sua alma.
-Filha, eu quero que esta seja a última vez em sua vida que você chora.Agora você não é mais um soldado, e´uma Guerreira.Uma heroína.Vá, siga seu próprio caminho,seus pais já estão honrados e orgulhosos por sua luta!
-Obrigada, paizinho...obrigada...
A figura de Gigas desapareceu.
Quando Nimitris pôs-se de pé, estava decidida.Tomou o caminho que saia do cemitério e que nem ela sabia onde iria dar, seguindo em direção do nascer do Sol, que brilhava intensamente e enchia o cemitério de colorido e a fazia sentir mais viva do que nunca !

FIM

Cristiano Camargo
 




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