terça-feira, 19 de agosto de 2014

Sensibilidade de Viver Origens-Episódio 27




-Que bom ! Agora, quanto à sensação de inferioridade que você sentiu ao encarar a sua família, e a vergonha que você sentiu pela censura de todos e o clima ruim na viagem de volta,Lune-san, você não percebeu, mas a principal censura vinha de você mesma. Na verdade você não se sentia inferior a eles e sim à si mesma.A impotência diante do Mundo nos traz mesmo sensação de inferioridade, não comandar a situação e perceber que a situação  é comandada pelos outros nos traz profunda decepção e frustração.Mas quantas situações na vida nós dominamos?Quantas decisões dependem apenas de nossas vontades?Nem todas !E somos menores que o mundo por causa disto?Ora, não seria uma enorme prepotência e arrogãncia nos julgares maiores que o mundo que nos rodeia?Se ele nos rodeia, não há como sermos maiores do que ele.Mas sim, sim, nossa vontade é a de que tudo e todos dependam de nós e nossas vontades , como se divindades fôssemos ! Mas vamos parar para pensar um pouquinho: não seria para nós um fardo grande demais ter todos e tudo dependendo de nós? A dependência é cruel tanto para quem depende de como com quem comanda.A cada poder se elege uma responsabilidade, então o que parece uma posição vantajosa, na verdade é uma posição de dependência,por que a responsabilidade é uma relação dialética e interativa de interdependência entre as partes, e a parte de quem comanda tem o peso da responsabilidde sobre seus comandados e a insegurança das consequencias sobre eles, de suas decisões, que pode acarretar a própria perda de seu comando.Quem comanda tem de zelar pela sua imagem perante os comandados.Então, a inferioridade do comandado é apenas aparente.Mas onde as situações sociais erram é na verticalização das relações através das hierarquias.E a hierarquia é a base de qualquer sociedade humana.Há que se pensar mais horizontalmente.Então, por que se censurar se todos a censuram?Eles sabem os verdadeiros motivos que a levaram a agir como você agiu?A sua prima não agiu mal em te levar para a rua com claras intenções de brigar com você  físicamente?Ela também tem boa parcela de culpa, portanto, eles foram injustos em culpar a você por tudo.Mas como sua prima não estava presente no carro, descontaram a raiva e a vergonha que eles passaram em você.Mas não havia na verdade, necessidade de você ter vergonha de si mesma por causa da vergonha que eles sentiram.Você não sentiu vergonha, e não pode se censurar por isto, é o seu jeito de ser, que as pessoas tem de respeitar.
-Mas eu perdi a briga, Rina-san, ela me bateu..ai,aiai !
-Desculpe, eu deveria ter limpado o ferimento com mais delicadeza.Olha, Lune-san, você ter aceitado a briga com ela e ter embarcado na atitude de violência dela foi um erro , de fato.Você sabia que ela era mais alta e forte que você, então deveria entender que seria uma luta perdida.Mas ainda assim você se defendeu como pode, e não se rendeu.Então não foi nenhuma vergonha.Atribua o erro à sua inexperiência com este tipo de situação e considere esta experiência como um aprendizado.Você não cometerá o mesmo erro outra vez, pois sabe que o caminho das palavras é uma espada muito mais afiada que o da violência.Porém penso que você deve ir começando a se preparar psicológicamente para uma onda de sermões de seus pais ou mesmo alguma punição, mas lembre-se que o Ser Humano Honrado é aquele que arca com as consequencias de seus próprios atos sem reclamar.Deste modo, se a punição vier, não se sinta inferiorizada ou injustiçada.Punições passam, mas a Vida continua.O importante é que você sinta em sua consciência ter feito a coisa certa !
-Você tem razão, Rina-san, muito obrigada !
-Você se sente melhor agora?
-Sim, você é um bálsamo para minhas dores , minha amiga, eu adoro você!
-Obrigada, Lune-san ! Bom, eu preciso ir agora, mas a gente vai se vê na segunda, na aula !
-De nada, eu também quero tomar um banho agora.
Rina saiu do quarto e foi ter uma longa conversa com os pais de Lune, enquanto esta tirava suas roupas e entrava no banho.
Uma semana se passou e agora uma nova festa iria acontecer, agora para o aniversário de Momiji.
A movimentação na casa dos Tamasuki era intensa naquele domingo de manhã,com todos cooperando para a organização da festa, menos quem?
Exato !Lune !
Ela ficara enfurnada em seu quarto lendo seus livros de filosofia e não queria nem saber de sair de lá.De nada adiantara Ruri, Otaru, Kazuo e até a própria Momiji pedirem e insistirem,prometerem presentes, etc, aquilo tudo só a irritava.Até Rina, que não era da família, quis ajudar,mas nem a ela Lune ouviu.
Perguntada se ler o bendito livro era mais importante que o aniversário da própria mãe dela, a resposta dela foi um seco Sim!
Para Lune, se eles sequer compareceram ao aniversário dela, por que ela iria ajudar a organizar e comparecer ao aniversário da mãe dela? Só por que Momiji era mãe dela? Para Lune, este era um argumento emocional, não racional, portanto era fraco e inválido. E ela se comprometera consigo mesma a terminar de ler aquele livro naquele dia e não iria se apressar só  para satisfazer as vontades dos outros. Os outros que esperassem ela terminar primeiro, oras, os assuntos dela eram para ela mais prioritários dos que os de quaisquer outros e ponto final, sem mais discussão. Afinal, porque só os assuntos dos outros tinham de ser prioritários para os outros e os dela não?
Ela assim via os assuntos dos outros como meros caprichos e os dela como metas estratégicas e prioritárias que ela tinha por obrigação cumprir a ferro e fogo e  as demais pessoas teriam de esperar sua vez na fila de prioridades e missões que Lune organizava todos os dias para si mesma mentalmente. E naquele dia, aquela festa estava no último lugar da lista. E a ordem que ela estabelecia para suas prioridades e tarefas era rígida e tinha de ser cumprida na ordem estabelecida. Ela não gostava de ter de incluir uma nova tarefa, especialmente uma imposta pelos outros, na lista, por que implicaria em reorganizar toda a sua agenda mental e já lhe bastava o trabalho que organizar tanto lhe causava.
Sua prioridade era tamanha, que quando estava chegando a um ponto de ônibus, por exemplo, ou a um semáforo para pedestres, ela esperava e desejava ,na verdade mentalmente ordenava, que o ônibus esperasse a ela chegar ao ponto  primeiro antes de chegar e sair, ela não iria apertar o passo para pegá-lo; e o semáforo tinha a obrigação de esperar a ela chegar na frente dela para abrir para ela, ela também não apertaria o passo por causa dele.
Caso o ônibus não a esperasse ou o semáforo fechasse, ela os "punia" pela "desobediência" deles xingando-os mentalmente. Então, tudo na vida real tinha de obedecer suas ordens e vontades, inclusive as pessoas, e quando não ocorriam, ela sempre arranjava uma maneira de "punir".
O chofer do ônibus nunca saberá o quanto foi xingado, nem o semáforo, claro, mas sempre que dava, algum tipo de punição física ela impunha às pessoas, animais e objetos inanimados que não a "obedeciam".
Como , por exemplo ,chutar algum objeto que a fizesse tropeçar(no entender dela).Ela aliás, adorava punir, mas detestava ser punida!
Como no dia seguinte ao escândalo na prima dela, em que Momiji, sabendo que não adiantava deixá-la de castigo no quarto dela, pois ela nem ligaria e ficaria nos livros dela, resolveu puni-la mandando-a lavar uma pilha de louças suja, algo que ela sabia que Lune detestava.
E sempre que punida, nossa heroína planejava suas "vingancinhas".
E era justamente uma delas o principal motivo de ela não estar nem aí com o aniversário da mãe e sequer a cumprimentar no domingo de manhã.
Mas a experiente Momiji sabia das coisas e apesar de ao invés de receber um "Feliz aniversário!" , ter recebido um "Eu te odeio! Morra por favor !" da filha no seu dia especial logo cedo, ela, logo que a festa começou, mandou aumentar o volume do som a ponto de Lune escutar alto dentro de seu quarto e atrapalhar a concentração dela.
Resultado, a contragosto e revoltada, sentindo-se pressionada, ela acabou se trocando e se arrumando e desceu para a festa na sala.
A festinha contava com umas trinta pessoas, incluindo Marika e Rina.
Assim que Lune chegou, o volume do som foi diminuido para o volume normal, baixinho. Ela simplesmente ignorou a mãe como se nem existisse e fez a mesma coisa com Marika, que tentou lhe pedir desculpas, abaixando seu tronco e cabeça para ela, mas Lune, numa grosseria extrema para os hábitos japoneses, fez de conta que nem viu, passou direto por ela, cumprimentou Rina e começou a conversar com ela, como se Marika nem existisse, o que deixou a outra garota tremendo de raiva!
Durante a festa ficava abraçando o pai o tempo todo e ignorando a mãe, e sorria diante do constrangimento social desta, e os convidados, muitos deles amigos da família e parentes, ficavam olhando-se entre eles, espantados e descrentes entre eles, passando a eles uma péssima impressão!
Uma determinada hora, Lune foi buscar mais refrigerante na geladeira, na cozinha, quando Marika a seguiu.
-Escuta aqui, sua malcriada, até quando vai ficar me ignorando, heim? Já não bastou a surra que levou, quer outra, é?
Disse Marika, furiosa.
-Não é livre quem não obteve domínio sobre si. Pitágoras.
-Você também não se controlou!
-A Ambiguidade faz parte da essência de se ser um Ser Humano. Lune Tamasuki.
-Ah, mas que convencida, agora se acha filósofa também !
-´Só sei que nada sei, e o fato de eu saber disto me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa. Sócrates.
-Aaaaah, que raiva! Você está me dando nos nervos com a sua arrogãncia!
Lune sorriu e sem olhar para prima, respondeu:
-Eduquem os meninos e não será preciso educar os Homens. Pitágoras.
Marika estava soltando fumacinha pelas orelhas, de fúria, diante da indireta, mas eis que Rina entrou na cozinha e viu as faíscas saindo dos olhos da duas, e o sorriso maquiavélico e cruel de Lune, na certeza de que desta vez ela triunfara e ganhara a briga brilhantemente.
Sabendo que Rina era amiga de infância de Lune, e que era mais alta e mais forte que ela, Marika retirou-se da cozinha, com olhos molhados de frustração. Sua vontade era de surrar Lune a noite toda!
-Parece que desta vez você se deu bem, Lune-san! E resolveu a situação sem brigas.
-Só usei citações bem básicas e populares , algumas óbvias mesmo, bem chichês, por que eu sabia o quanto ela é ignorante, então  fui o mais rasa que pude.

(por continuar)

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