-Ah, quando as pessoas falavam que eu ficava
olhando para o vazio?
-Exato !
-Eu me
imaginava debatendo com os filósofos.
-Mas e antes de você conhecer a Filosofia?
-Ah, eu pensava na Vida, na Morte, em por que
eu existia...sei lá, eu nem lembro mais de muita coisa...
-Entendi. Bom, então vamos falar de sonhos !Tem
algum que te marcou fortemente na sua vida?
-Bom , tem um bem recente, que ainda estou
encanada por que sonhei aquilo!
-Bom, eu me referia a sonhos antigos, mas vamos
lá, estou escutando!
Lune contou então o seu sonho dos senhores
barbudos perfilados.
-Ah, que maravilha, muito sugestivo! Bom, nossa
sessão acabou por hoje, mas a gente se fala na semana que vem, ok?
Lune saiu do consultório e foi para uma loja de
conveniência, comprou um hot dog e pegou um refrigerante e ficou pensativa
enquanto comia. Curioso era notar que ela escolheu a mesa mais afastada das
pessoas possível e sempre que alguém sentava numa mesa próxima, ela se mudava para
outra mesa, irritada. Ela detestava escutar as conversas das outras pessoas.
Depois tomou um metrô e um ônibus e voltou para
casa. Durante outras três semanas, mais três sessões se seguiram e mais testes,
e Lune começou a ficar impaciente e malcriada com a psicóloga.As sessões a
estressavam e ela chegava nervosa em
casa.
No dia seguinte á quarta sessão, ela disse ao
pai que não queria mais psicoterapia.
-Conversei hoje com a Dra. Yuki, filha. Está
oficialmente confimado:você é Asperger ! Eis aqui o documento do laudo oficial
do seu diagnóstico.
-Dane-se ela, pai ! Dane-se Asperger, não quero
nem saber! Eu não vou mais fazer esta estupidez de psicoterapia, para mim chega
!
-Mas filha, você precisa !É importante para
você !
-Muito obrigada por me achar doente ! Me deixa
em paz !
E bateu a porta do quarto dela na cara do pai.
Quando domingo chegou, ela foi na casa de Rina,
e ela explicou o acontecido no dia anterior.
-Eh, Lune-san, não precisava ser grosseira
assim com seu pai, coitado !Olha, eu vou te contar uma coisa: eu tenho um primo
que é Asperger também. E ele é uma pessoa humana linda, muito inteligente,
sensível,meio pervertido, é verdade, mas tem um bom coração, é generoso e
gentil.Sabe, eu o conheço desde criança, e o conheço profundamente e convivi
muito com ele. E tenho estudado muito sobre Aspergers também.Sabe, se ser
Asperger é ser tão bacana assim, então ser Asperger não é ser doente, é ser
diferente para melhor !Sabe, Lune-san, nós vivemos um mundo tão individualista,
tão frio, insensível,tão egoísta,tão excludente, com tantos preconceitos,que
ser diferente de tudo isto não é errado, não é doentio, não é ser inferior, é
brilhar como pessoa humana!Muita gente que te conhece superficialmente te acha
um pessoa fria, insensível, mas eu a conheço muito bem e sei que você também é
uma pessoa humana linda, maravilhosa, super inteligente, e tem uma grande
sensibilidade dentro de si ! Olha, faz o seguinte, pensa direitinho sobre tudo
o que te falei, que você vai ver que ser Asperger é muito bom !Quem dera eu
pudesse ter sido também !
-Tudo bem, Rina-san,pensarei. Só de curiosa,
quem é este primo seu?
-Takeo Soryu, aquele rapaz que é apaixonado por
você e que vive te observando e suspirando pelos cantos! Interessada nele?
Disse Rina, dando um risinho.
-Ah, então esquece! Mais um me pedindo em
namoro, não tem condições ! Estou fora !Já cansei de falar para estes rapazes
que não aceito ninguém e não quero saber de namorar !
-Mas ele é super tímido, nem tem coragem de te
pedir em namoro, depois ele não é um rapaz qualquer e...
-Não me interessa ! Não quero conhecê-lo,
entendeu?Vou embora, já é tarde, estou cansada e quero ir dormir !Tchau !
Lune agora já estava irritada de novo, e Rina,
resignada, preferiu não insistir.
Foi Lune entrar em casa e o carro de Takeo
chegou na casa vizinha. Dentro em poucos minutos ele e Rina saíam para um motel
fazer amor de novo.
Depois, quando já no final da madrugada Takeo
foi deixar Rina na porta de casa, ela explicou sobre o diagnóstico de Lune e
sobre a negativa dela em conhecê-lo.
Ele foi embora muito abatido e triste, de olhos
rasos, mas era persistente. E dizia a si mesmo que um dia iria juntar coragem e
pedir Lune em namoro!
Segunda feira, dia de aulas novamente, e não
demorou, Lune saiu para ir 'a aula.
-Lune-nee-san ! Espere por mim, quero ir com
você desta vez !
-Você sabe bem que prefiro ir sozinha,
Ruri-san. Por que quer vir comigo?
-Ah, é tão chato ir sozinha...e por que eu
gosto de você também !
-E por que gosta de mim? O que há em mim que a
faz gostar de mim?
-Ah, não é óbvio, Lune-nee-san?Por que sou sua
irmã mais nova, oras !
-Não me parece razão válida ou suficiente, nem
explica muita coisa, mas...você me parece muito animada hoje.Por que tanta
alegria?
-Por que o papai me disse que hoje a noite
vamos todos sair para jantar fora, para compensar o que você passou no seu
aniversário.Vamos comemorar seu aniversário hoje !Faz um tempão que não sai a
família inteira junta !
-Entendi.Não vejo necessidade disto, afinal um
aniversário é apenas a lembrança anual da data do nascimento das pessoas.Não
vejo necessidade de comemorações.
-Mas Lune-san, bem que você se sentiu sozinha e
triste, e quando chegamos vocè abraçou a todo mundo chorando, pedindo
desculpas...
(por continuar)
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