sábado, 23 de agosto de 2014

Naquela fria manhã de Outono- Episódio 31


 
Hideo estava desolado.Ele não quis aquele beijo forçado, ainda que o sabor tivesse sido, como foi, agradável.Mas não era o beijo de Ayumi que ele queria, era o de Maki.E agora, ela sequer tinha deixado explicar o que realmente ocorrido e fugiu.Ele se sentia rejeitado e envergonhado, e arrependido por não ter resistido ao beijo.E não tinha idéia de como explicar a verdade para Maki.
Pior, agora tudo estava indefinido e parecia ter voltado à estaca zero novamente- o futuro do relacionamento dos dois era nebuloso e incerto.
Cresceu nele uma grande dor de cabeça, e a depressão devastava a sua mente.
Ele sabia que teria de dar explicações a Tetsuo, também,e tinha medo de enfrentá-lo.
Mas o que ele não sabia era da humilhação da própria Ayumi,promovida por Kuome e Midori.E que Tetsuo enfrentava seus próprios problemas, tentando acalmar Maki, ainda traumatizada, chocada, se mordendo de ciúmes.Pensamentos venenosos tomavam conta da mente dela, e , embora ela soubesse que Kuome e Midori não deixariam sua humilhação barata,isto não bastava para o seu coraçãozinho revoltado!
A imagem de Hideo e Ayumi se beijando não saía de sua cabeça, e ela chorava inconsolável.Ela estava descobrindo as dores de amar, e como a paixão pode ser dolorosa, coisas pelas quais ela nunca tinha passado antes e com as quais não sabia lidar.
Tetsuo, por outro lado,estava aflito.Não apenas pelo sofrimento de Maki,como se fosse apenas, mas também porque estava na hora da próxima aula e ele não podia se atrasar!
Não muito depois de Ayumi passar correndo por ela, porém, Kuome e Midori vieram correndo ampará-la.
-Onii-san, deixe que eu tomo conta dela agora, vá para a sua aula!
-Mas Kuome-san...
-Eu tomo conta dela, já disse, anda, você agora só vai atrapalhar!
Tetsuo ainda estava relutante.
Mas Maki percebeu a situação, e com muito esforço para se acalmar, disse:
-Papai, pode ir trabalhar, eu vou ficar bem com a Kuome e a Midori, depois em casa a gente conversa, ok?
-Você jura, filha?Eu não queria te deixar numa situação destas...vai ficar bem mesmo?
-Eu sou forte, papai, confia em mim, na filha que te ama...
Tetsuo ficou de olhos marejados de emoção:
-Ai, filha, minha filhinha, eu te amo também, meu doce!Eu confio em você,ok?Mas olha, procurarei sair daqui o mais rápido possível para te ver!E vocês duas, por favor cuidem bem da Maki-san. Kuome, você sabe dirigir, não sabe? Tome as chaves do carro e vão para casa.Pode deixar que eu tomo um táxi depois.Todas vocês estão dispensadas das aulas até o fim do dia!
Kuome ficou espantada: Tetsuo tinha um ciúmes enorme do carro, apesar de ele ter  vinte anos de uso, e jamais emprestou-o para ela.Ela, no entanto ficou preocupada:de carro o trajeto era curto, mas como ela ainda não tinha carta de motorista, ela tinha medo de ser pêga por uma blitz da Polícia.Era um risco, mas era também uma emergência, então as três se dirigiram ao carro dele.Midori ficou abraçada com Maki no banco de trás, e Kuome foi dirigindo.
Bastaram dez minutos para chegarem sãs e salvas em casa.Os pais de Tetsuo, no entanto estavam fora, trabalhando.
Elas viram Hideo voltando para  casa a pé, pois ele já não tinha mais cabeça para aulas.Kuome teve dó dele, uma vítima inocente, mas não podia convidá-lo a entrar no carro pois não sabia qual poderia ser a reação de Maki, ainda muito abalada.
Porém, ao entrarem em casa, Kuome e Midori perceberam claros sinais de irritabilidade em Maki,que normalmente era calmíssima, e nunca a tinham visto brava. Até agora!
-Me larga !
-O que foi, Maki?
-Largue o meu braço, Kuome-san! Agora!
O tom de voz de Maki era enérgico.Kuome a obedeceu.
Maki deu alguns passos à frente, de costas para as duas e gritou à plenos pulmões algo que elas juravam que nunca esperariam que ela dissesse na vida:
-Eu mato aquela desgraçada! Eu mato ! Eu mato!Entenderam?Eu vou matar, esganar aquela cadela sem vergonha!
Mudas,as duas estavam de olhos arregalados, mal acreditando no que ouviram.
-Ela tentou roubar o meu Hideo! O meu Hideo!Pombas, eu nunca namorei na vida, e quando aparece uma chance, aquela prostituta me aparece para tirá-lo de mim!
Midori, titubeante, fez um comentário infeliz:
-Mas vocês já não estavam namorando?
-Ele não é meu namorado ! Nunca foi ! Não houve um pedido oficial de namoro até agora ! Só um beijo!Meu primeiro beijo, e ela me roubou o segundo, aquela..aquela...não,não é justo! Vocês acham justo?Heim?Heeeeeim?
Maki estava roxa de raiva, histérica, descontrolada, e tremia de nervosa dos pés à cabeça. O coração estava próximo da taquicardia, e doía, e quando as meninas viram, debaixo de Maki se formou uma poça de sangue.Era óbvio que ela passou por tanto nervoso e tanto stress que sua menstruação tinha se adiantado e começou naquela mesma hora.Segundos depois, outra poça, agora de urina.
-Ai, eu estou toda suja ! Que raiva ! Por que estas coisas tem que acontecer comigo?Porquê?Porquê?
-Calma, Maki-san, calma, não fica assim!Vamos tomar um banho então!
-Cala a boca, Kuome ! Cala esta boca ! Cala esta maldita boca !Pombas !Deixa que eu tomo banho sozinha ! E sumam-se da minha frente !
As meninas estavam chocadas! Nunca a tinham visto assim, e ficaram sem ação.Normalmente Kuome, com seu pavio curto,teria respondido com um tapa na cara se alguém a mandasse calar a boca, mas ela não teve coragem de reagir.Ela sabia que Maki tinha todos os motivos do mundo para estar nervosa daquele jeito, e estava preocupada dela passar mal, a pressão subir demais, ou cair, enfim...
Ela e Midori sabiam bem se se fossem elas a enfrentar uma situação delas, seria a mesma coisa ou pior.Elas se calaram, e foram para a sala de televisão.
Maki subiu furiosa, correndo e chorando, para o quarto dela.
A raiva era tanta que ela , durante o banho, passava o sabonete na pele com violência, e a cada vez que ele caía no chão, ela se irritava mais ainda e gritava xingamentos os mais impublicáveis possíveis ainda mais alto.
Depois do banho, e do absorvente higiênico torto, mal e porcamente colocado, deitou-se só de lingierie na cama, e chorava, chorava...
Kuome no entanto estava preocupadíssima, mas sabia que Maki não deixaria, naquele momento, ninguém se aproximar dela.
Não demorou muito, Tetsuo chegou.
-Como ela está?
-Ela teve um ataque de fúria, onii-chan.não deixa ninguém chegar perto,está histérica e descontrolada.!Acho melhor você não subir!
-Ah, não, e agora?O que faremos?
-Olha, Tetsuo-sempai, acho que é melhor ela ficar sózinha por enquanto,pois ela precisa de um tempo para ela.Provavelmente ela amanhã estará melhor!
-Tem certeza, Midori-san?
-Eu não tenho como ter, mas ainda assim, é o que é possível fazer!
-Eu entendo, Midori-san, mas não consigo ficar de mãos atadas assim...eu vou subir!
-Não, Onii-chan , só vai piorar as coisas, ela poderá ser violenta com você!
-Eu não vou entrar no quarto dela,onee-chan, eu vou para o meu quarto.
Mas Tetsuo mentiu.Ele ficou sentado no chão do corredor, ao lado da porta, de costas para o quarto dela,ouvindo-a chorar, e gritar, e berrar até ficar rouca, e a escutou se levantar da cama e começar a jogar tudo quanto era objeto contra as paredes, o barulho de quebradeira era facilmente escutável.
E Tetsuo ouvindo tudo e sofrendo!
Sofrendo não apenas pelo sofrimento de Maki,mas também pela preocupação se aquele trauma não deixaria sequelas nela para sempre, e se ela conseguiria superar tudo aquilo, e também pela sua impotência, de ver ela sofrendo e não poder fazer nada, não poder ajudá-la!
Durante toda a tarde ele ficou ali, ao lado dela, até que ele ouviu roncos.Ah, finalmente, ela dormira!
Ele ficou muito aliviado, e saiu do corredor, mas de quinze em quinze minutos ele ia olhar se ela continuava dormindo.
Enquanto isto, Hideo chegava em casa, absolutamente deprimido.Deitou-se no sofá da sala, calado, de olhos marejados.Não demorou a irmã mais nova dele chegou.
-Onii-chan, eu fiquei sabendo do que aconteceu!Como você está?
-Emi-onee-chan!
Hideo abraçou a irmã, que se sentara na beirada do sofá, colocou a cabeça no colo dela, e desandou a chorar como um bebê.Condoída, Emi, acariciava seus cabelos, e tentava consolá-lo, mas a dor no coração dele era profunda.
Jã na casa de Maki, as coisas começavam a melhorar.
Finalmente acordada pela fome,Maki se levantou, agora calada e deprimida.Com muita má vontade colocou um shortinho e uma camiseta regata, calçando depois um chinelo de dedo.
Ela abriu a porta e se deparou com Tetsuo dormindo sentado junto à porta,de costas para ela.
-Papai!Acorda, papai!
Tetsuo se levantou num susto.
-Filha! Eu...eu estava tão preocupado com você!
-Obrigada, papai, eu estou bem agora.Tudo bem, vamos levantar?
Tetsuo se levantou.
-Filha...
-Eu te amo, papai! Você é o único que nunca vai me trair, não é?
-Jamais, filhinha, jamais faria uma coisa destas com você! Você sabe que sempre poderá contar comigo ! Sempre!Para tudo!
Para a absoluta surpresa dele, ela se colocou nas pontas dos pés,abraçou o pescoço dele,  e lhe deu um selinho.
-Agora a gente vai sempre se cumprimentar assim,certo, papai?
-Filha...
-Agora vem, vamos descer.Onde estão a Kuome e a Midori?
-Lá embaixo, assistindo TV!
-Vamos lá então! Disse Maki, num sorriso forçado.
Ao chegarem na sala de TV, de mãos dadas, Maki e Tetsuo viram as duas sentadas no sofá.
-Kuome, Midori...por  favor, e desculpem ! Eu fui muito rude com vocês, que me ajudaram tanto...
Mas não ouve tempo de responderem. O telefone sem fio tocou, e Kuome atendeu:
-Alô, quem é? Hideo?

(por continuar)

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