Hideo
estava desolado.Ele não quis aquele beijo forçado, ainda que o sabor tivesse
sido, como foi, agradável.Mas não era o beijo de Ayumi que ele queria, era o de
Maki.E agora, ela sequer tinha deixado explicar o que realmente ocorrido e
fugiu.Ele se sentia rejeitado e envergonhado, e arrependido por não ter
resistido ao beijo.E não tinha idéia de como explicar a verdade para Maki.
Pior,
agora tudo estava indefinido e parecia ter voltado à estaca zero novamente- o
futuro do relacionamento dos dois era nebuloso e incerto.
Cresceu
nele uma grande dor de cabeça, e a depressão devastava a sua mente.
Ele
sabia que teria de dar explicações a Tetsuo, também,e tinha medo de
enfrentá-lo.
Mas
o que ele não sabia era da humilhação da própria Ayumi,promovida por Kuome e
Midori.E que Tetsuo enfrentava seus próprios problemas, tentando acalmar Maki,
ainda traumatizada, chocada, se mordendo de ciúmes.Pensamentos venenosos
tomavam conta da mente dela, e , embora ela soubesse que Kuome e Midori não
deixariam sua humilhação barata,isto não bastava para o seu coraçãozinho
revoltado!
A
imagem de Hideo e Ayumi se beijando não saía de sua cabeça, e ela chorava
inconsolável.Ela estava descobrindo as dores de amar, e como a paixão pode ser
dolorosa, coisas pelas quais ela nunca tinha passado antes e com as quais não
sabia lidar.
Tetsuo,
por outro lado,estava aflito.Não apenas pelo sofrimento de Maki,como se fosse
apenas, mas também porque estava na hora da próxima aula e ele não podia se
atrasar!
Não
muito depois de Ayumi passar correndo por ela, porém, Kuome e Midori vieram
correndo ampará-la.
-Onii-san,
deixe que eu tomo conta dela agora, vá para a sua aula!
-Mas
Kuome-san...
-Eu
tomo conta dela, já disse, anda, você agora só vai atrapalhar!
Tetsuo
ainda estava relutante.
Mas
Maki percebeu a situação, e com muito esforço para se acalmar, disse:
-Papai,
pode ir trabalhar, eu vou ficar bem com a Kuome e a Midori, depois em casa a
gente conversa, ok?
-Você
jura, filha?Eu não queria te deixar numa situação destas...vai ficar bem mesmo?
-Eu
sou forte, papai, confia em mim, na filha que te ama...
Tetsuo
ficou de olhos marejados de emoção:
-Ai,
filha, minha filhinha, eu te amo também, meu doce!Eu confio em você,ok?Mas
olha, procurarei sair daqui o mais rápido possível para te ver!E vocês duas,
por favor cuidem bem da Maki-san. Kuome, você sabe dirigir, não sabe? Tome as
chaves do carro e vão para casa.Pode deixar que eu tomo um táxi depois.Todas
vocês estão dispensadas das aulas até o fim do dia!
Kuome
ficou espantada: Tetsuo tinha um ciúmes enorme do carro, apesar de ele ter vinte anos de uso, e jamais emprestou-o para
ela.Ela, no entanto ficou preocupada:de carro o trajeto era curto, mas como ela
ainda não tinha carta de motorista, ela tinha medo de ser pêga por uma blitz da
Polícia.Era um risco, mas era também uma emergência, então as três se dirigiram
ao carro dele.Midori ficou abraçada com Maki no banco de trás, e Kuome foi
dirigindo.
Bastaram
dez minutos para chegarem sãs e salvas em casa.Os pais de Tetsuo, no entanto
estavam fora, trabalhando.
Elas
viram Hideo voltando para casa a pé,
pois ele já não tinha mais cabeça para aulas.Kuome teve dó dele, uma vítima
inocente, mas não podia convidá-lo a entrar no carro pois não sabia qual
poderia ser a reação de Maki, ainda muito abalada.
Porém,
ao entrarem em casa, Kuome e Midori perceberam claros sinais de irritabilidade
em Maki,que normalmente era calmíssima, e nunca a tinham visto brava. Até
agora!
-Me
larga !
-O
que foi, Maki?
-Largue
o meu braço, Kuome-san! Agora!
O
tom de voz de Maki era enérgico.Kuome a obedeceu.
Maki
deu alguns passos à frente, de costas para as duas e gritou à plenos pulmões
algo que elas juravam que nunca esperariam que ela dissesse na vida:
-Eu
mato aquela desgraçada! Eu mato ! Eu mato!Entenderam?Eu vou matar, esganar
aquela cadela sem vergonha!
Mudas,as
duas estavam de olhos arregalados, mal acreditando no que ouviram.
-Ela
tentou roubar o meu Hideo! O meu Hideo!Pombas, eu nunca namorei na vida, e
quando aparece uma chance, aquela prostituta me aparece para tirá-lo de mim!
Midori,
titubeante, fez um comentário infeliz:
-Mas
vocês já não estavam namorando?
-Ele
não é meu namorado ! Nunca foi ! Não houve um pedido oficial de namoro até
agora ! Só um beijo!Meu primeiro beijo, e ela me roubou o segundo,
aquela..aquela...não,não é justo! Vocês acham justo?Heim?Heeeeeim?
Maki
estava roxa de raiva, histérica, descontrolada, e tremia de nervosa dos pés à
cabeça. O coração estava próximo da taquicardia, e doía, e quando as meninas
viram, debaixo de Maki se formou uma poça de sangue.Era óbvio que ela passou
por tanto nervoso e tanto stress que sua menstruação tinha se adiantado e começou
naquela mesma hora.Segundos depois, outra poça, agora de urina.
-Ai,
eu estou toda suja ! Que raiva ! Por que estas coisas tem que acontecer
comigo?Porquê?Porquê?
-Calma,
Maki-san, calma, não fica assim!Vamos tomar um banho então!
-Cala
a boca, Kuome ! Cala esta boca ! Cala esta maldita boca !Pombas !Deixa que eu
tomo banho sozinha ! E sumam-se da minha frente !
As meninas
estavam chocadas! Nunca a tinham visto assim, e ficaram sem ação.Normalmente
Kuome, com seu pavio curto,teria respondido com um tapa na cara se alguém a
mandasse calar a boca, mas ela não teve coragem de reagir.Ela sabia que Maki
tinha todos os motivos do mundo para estar nervosa daquele jeito, e estava
preocupada dela passar mal, a pressão subir demais, ou cair, enfim...
Ela
e Midori sabiam bem se se fossem elas a enfrentar uma situação delas, seria a
mesma coisa ou pior.Elas se calaram, e foram para a sala de televisão.
Maki
subiu furiosa, correndo e chorando, para o quarto dela.
A
raiva era tanta que ela , durante o banho, passava o sabonete na pele com
violência, e a cada vez que ele caía no chão, ela se irritava mais ainda e
gritava xingamentos os mais impublicáveis possíveis ainda mais alto.
Depois
do banho, e do absorvente higiênico torto, mal e porcamente colocado, deitou-se
só de lingierie na cama, e chorava, chorava...
Kuome
no entanto estava preocupadíssima, mas sabia que Maki não deixaria, naquele
momento, ninguém se aproximar dela.
Não
demorou muito, Tetsuo chegou.
-Como
ela está?
-Ela
teve um ataque de fúria, onii-chan.não deixa ninguém chegar perto,está
histérica e descontrolada.!Acho melhor você não subir!
-Ah,
não, e agora?O que faremos?
-Olha,
Tetsuo-sempai, acho que é melhor ela ficar sózinha por enquanto,pois ela
precisa de um tempo para ela.Provavelmente ela amanhã estará melhor!
-Tem
certeza, Midori-san?
-Eu
não tenho como ter, mas ainda assim, é o que é possível fazer!
-Eu
entendo, Midori-san, mas não consigo ficar de mãos atadas assim...eu vou subir!
-Não,
Onii-chan , só vai piorar as coisas, ela poderá ser violenta com você!
-Eu
não vou entrar no quarto dela,onee-chan, eu vou para o meu quarto.
Mas
Tetsuo mentiu.Ele ficou sentado no chão do corredor, ao lado da porta, de
costas para o quarto dela,ouvindo-a chorar, e gritar, e berrar até ficar rouca,
e a escutou se levantar da cama e começar a jogar tudo quanto era objeto contra
as paredes, o barulho de quebradeira era facilmente escutável.
E
Tetsuo ouvindo tudo e sofrendo!
Sofrendo
não apenas pelo sofrimento de Maki,mas também pela preocupação se aquele trauma
não deixaria sequelas nela para sempre, e se ela conseguiria superar tudo
aquilo, e também pela sua impotência, de ver ela sofrendo e não poder fazer
nada, não poder ajudá-la!
Durante
toda a tarde ele ficou ali, ao lado dela, até que ele ouviu roncos.Ah,
finalmente, ela dormira!
Ele
ficou muito aliviado, e saiu do corredor, mas de quinze em quinze minutos ele
ia olhar se ela continuava dormindo.
Enquanto
isto, Hideo chegava em casa, absolutamente deprimido.Deitou-se no sofá da sala,
calado, de olhos marejados.Não demorou a irmã mais nova dele chegou.
-Onii-chan,
eu fiquei sabendo do que aconteceu!Como você está?
-Emi-onee-chan!
Hideo
abraçou a irmã, que se sentara na beirada do sofá, colocou a cabeça no colo
dela, e desandou a chorar como um bebê.Condoída, Emi, acariciava seus cabelos,
e tentava consolá-lo, mas a dor no coração dele era profunda.
Jã
na casa de Maki, as coisas começavam a melhorar.
Finalmente
acordada pela fome,Maki se levantou, agora calada e deprimida.Com muita má
vontade colocou um shortinho e uma camiseta regata, calçando depois um chinelo
de dedo.
Ela
abriu a porta e se deparou com Tetsuo dormindo sentado junto à porta,de costas
para ela.
-Papai!Acorda,
papai!
Tetsuo
se levantou num susto.
-Filha!
Eu...eu estava tão preocupado com você!
-Obrigada,
papai, eu estou bem agora.Tudo bem, vamos levantar?
Tetsuo
se levantou.
-Filha...
-Eu
te amo, papai! Você é o único que nunca vai me trair, não é?
-Jamais,
filhinha, jamais faria uma coisa destas com você! Você sabe que sempre poderá
contar comigo ! Sempre!Para tudo!
Para
a absoluta surpresa dele, ela se colocou nas pontas dos pés,abraçou o pescoço
dele, e lhe deu um selinho.
-Agora
a gente vai sempre se cumprimentar assim,certo, papai?
-Filha...
-Agora
vem, vamos descer.Onde estão a Kuome e a Midori?
-Lá
embaixo, assistindo TV!
-Vamos
lá então! Disse Maki, num sorriso forçado.
Ao
chegarem na sala de TV, de mãos dadas, Maki e Tetsuo viram as duas sentadas no
sofá.
-Kuome,
Midori...por favor, e desculpem ! Eu fui
muito rude com vocês, que me ajudaram tanto...
Mas
não ouve tempo de responderem. O telefone sem fio tocou, e Kuome atendeu:
-Alô,
quem é? Hideo?
(por continuar)
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