sábado, 9 de agosto de 2014

Sensibilidade de Viver Origens-Episódio 17





-E por que você me acha manipuladora?Em que sentido você acha que eu estaria manobrando seu raciocínio?O que você acha que eu teria a ganhar com isto?
-Por que quer me forçar a falar do meu passado.Para conseguir suas intenções.
-E por que ,n sua opinião, eu teria razões para lhe forçar a me falar do seu passado?Quais seriam as minhas intenções para com a senhorita?
Aquilo já estava começando a irritar Lune, que começava a tamborilar os dedos das mãos na barriga,de nervosa.
- Para fazer o seu trabalho como psicóloga...talvez para me taxar de doente e me dar algum remédio!
-Ah, muito bem !Mas você se acha doente, senhorita Lune?Ah, antes que me esqueça,só psiquiatras receitam remédios, eu como psicóloga, não posso fazer isto, desculpe...
Disse Yuki com um sorriso, que pareceu a Lune artificial e forçado, e como ela não parava de sorrir, a irritava mais ainda!
-Claro que não!Mas que insistência!
-Em que estou insistindo, senhorita Lune?
Agora a menina perdeu a paciência e levantou-se, sentando-se no divã de frente para a psicóloga:
-Ok, ok ! Pombas, mas que droga ! Está bem, está bem, eu te falo do meu passado então!Já que você quer saber tanto assim...
-Admito que estou curiosa, senhorita Lune, e estou sendo muito sincera com você. Mas muito obrigada por cooperar comigo !Quer um copo de água?Eu vou buscar um para você!
A psicóloga se levantou e foi até um filtro de água que ficava num canto e trouxe um copo plástico com água gelada para Lune, que agradeceu ,tomou e se deitou de novo.
-Bom, você não vai querer que eu conte como eu nasci, nem como eu era quando bebê, não?
-Não precisa chegar a tanto.Pode começar pelo que você considerar suas lembranças mais antigas.
Disse a profissional, acrescid de uma leve e discreta risadinha.
-Tudo bem.Eu devia ter uns cinco anos e brincava sozinha e minha irmã Ruri, que é dois anos mais nova que eu, portanto tinha uns três anos na época,apareceu e quis me tomar a minha boneca de pano com a qual eu brincava.Eu não queria dar a ela, e minha mãe veio e me disse que eu não podia ser egoísta e que eu deveria deixar a Ruri brincar um pouco, que eu tinha de repartir as coisas.Eu me levantei e peguei uma tesoura e cortei a boneca no meio e dei para a Ruri !
Minha irmã começou a chorar e minha mãe ficou brava comigo, e eu respondi a ela que eu a obedeci e reparti  boneca com ela!Minha mãe não aceitou a explicação e me disse que eu era má e tinha feito minha irmã chorar, e que ainda estraguei a boneca que meu pai tinha trabalhado tanto para pagar.Ela me levou até meu quarto e me deixou de castigo e fiquei revoltada, por que por mim eu tinha feito tudo certo.
-Huuum, interessante ! Mas a senhorita disse que respondeu a sua mãe. Quando você começou  falar, a senhorita se lembra?
-Claro que não!Mas minha mãe diz que eu comecei a falar aos  quatro anos de idade.
-Ok, então. Pode continuar, por favor.
-Ah, deixa eu ver...bom,eu me lembro também de uma vez, quando eu devia ter uns seis anos, que eu andava na rua de mãos dadas com minha mãe, no centro da cidade e eu vi um balão vermelho voando solto por aí e fiquei encantada, e me soltei da mão da minha mãe e saí correndo atrás do balão,deixando minha mãe desesperada procurando por mim !O balão voou para longe,e quando vi, estava perdida no meio de uma muralha de gente e comecei a chorar.Foi quando um senhor de idade me viu chorando e chamou uma policial feminina.Aí ela me perguntou onde eu estivera com minha mãe pela última vez.Aí eu me lembrei de um restaurante que tinha em frente de onde eu saí correndo, por que tinha uma luminária de um caranguejo vermelho enorme.A policial identificou a esquina com rapidez e me levou até lá, e encontrou a minha mãe desesperada, perguntando para todo mundo se alguém tinha visto a mim.No fim eu não tinha andado nem três quadras, mas minha mãe me abraçou forte e chorou muito, agradecendo a policial sem parar e eu não entendia nada, não entendia por que ela chorava tanto...
-Certo, e lembranças de seu pai, você tem?
-Ah, vou te contar como eu descobri e fui gostar de filosofia, foi com ele !
-Filosofia?Que interessante !Pode contar então, por favor !
-Bom eu devia ter uns seis anos de idade também. Meu pai desde aquela época gostava de ouvir músicas clássicas, e eu gostava delas, as achava bonitas, e muitas vezes eu me sentava no sofá ao lado da poltrona dele para escutar.Um dia ele me pediu para eu fechar os olhos e imaginar estorinhas.E depois que a música acabasse, eu contasse a ele.Depois a gente conversava sobre as minhas estórias.
Muitas vezes ele estava com um livro no colo lendo enquanto escutava e um dia fiquei curiosa e quis saber que livro era aquele.
Ele me respondeu que era "O Príncipe" de Maquiavel.Eu achei que era um conto de fadas e pedi para ele me contar a estória do tal príncipe.Meu pai soltou uma gargalhada, depois de umas baforadas do cachimbo dele e inventou uma estória, baseada no livro, ensinando-me então a filosofia e a gente discutia  sobre isto.
Ele tinha muitos livros sobre Filosofia e como eu queria mais, ele passou a ler para mim, inventando estórias que ilustravam os fundamentos da filosofia pré- socrática e socrática, e logo meu fascínio despertou. Como meu pai é desenhista de mangás, ele desenhou um mangá sobre filosofia grega  e seus filósofos, que eu guardo com carinho até hoje.Um dia ele me levou numa biblioteca pública e me ajudou a pesquisar sobre a civilização grega, e o tempo foi passando e um ano depois eu já lia e entendia sozinha livros e ensaios filosóficos.Foi nesta época que conheci a minha única amiga, Rina.
-Única?Me fale mais sobre isto, por favor, sua amizade com ela, como você era como aluna na escola...
-Sim, eu nunca gostei de fazer amizades, na verdade sempre gostei de ficar sozinha e brincar sozinha.Muitas vezes outras crianças na escola me procuravam , mas eu me afastava,eu tinha prazer em ficar sozinha e vivia saindo da sala de aula para passear, e sempre me encontravam e traziam de volta.No intervalo eu também me isolava, e as outras crianças me achavam estranha.Várias vezes a Diretora chamou meus pais para dizer que sempre me encontravam parada numa sala de aula vazia, sentada numa carteira vazia, olhando para o nada, ou desenhando na lousa.As outras crianças muitas vezes implicavam comigo e me batiam,ou ficavam rindo de mim.Mas muitas me batiam por que tinham inveja de mim, por que eu ia melhor que elas em várias matérias, sem nunca pedir ajuda para ninguém, e por que eu me recusava a fazer trabalhos em grupo.Aliás, eu tive muitos problemas escolares por me recusar a fazer trabalhos coletivos, desafiar os professores e não reconhecer a autoridade deles.Falavam que eu era uma menina revoltada, indisciplinada, mimada e mal educada!
Yuki ia anotando tudo direitinho num maço de papel , e já sorria.
-Bom, paremos um pouco agora. Vou fazer alguns testes com você.
Depois dos testes, que foram rápidos, a psicóloga pediu para Lune falar sobre como conhecera Rina.
-Ah, ela era minha vizinha, e eu a via entrando e saindo de casa desde bem pequena, mas nunca tinha me interessado por ela.Um dia, ainda aos sete anos, distraída, tropecei e caí no chão, e meu livro  sobre Descartes caiu no chão.Ela me deu a mão e me ajudou a levantar, e depois recolheu meu livro e me devolveu, e me perguntou que livro era aquele.Eu expliquei, achando que ela seria só mais uma que acharia meus livros chatos, mas para a minha surpresa, ela achou interessante e me pediu para contar mais sobre ele.E como eu sou uma pessoa que quando é um assunto que gosto e domino fico falando dele sem parar,disparei a dar uma verdadeira aula sobre Descartes.
Ela me deixou falar até o fim, encantada e começou a estudar filosofia também, me pedindo livros emprestados e depois indo em casa ler comigo.E ela era um ano mais velha que eu, tinha oito anos.Depois inventamos um teatrinho em que nossas bonecas faziam debates filosóficos!
Nunca mais desgrudamos uma da outra estamos juntas sempre que podemos, somos grandes amigas !
-Olha só, adorei !Você gosta da escola, de estar no meio de um monte de gente?O que você imaginava quando ficava compenetrada?

(por continuar)

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