terça-feira, 26 de agosto de 2014

Conto: Presunção



Céu cinzento , carregado, vento frio, cortante, atmosfera ferina e pesada. Vou andando pelas ruas, as pessoas são só vultos, sombras que vem e que passam.
Aqui não há folhas para cair, só o cinzento dos prédios e o escuro do concreto discreto  com um quê de secreto,e sem vida. Passo pelas ruas, aguardo parada nos sinais, aqui só existem sombras, não reflexos, refletindo tristes complexos , pensamentos convexos, sem nexo . Não existem semblantes nos rostos errantes, faces que nada me dizem, indiferença que perpetua em moto contínuo a impessoalidade da cidade que continuo a observar. As conversas na multidão misturam-se em uma turba  ciclônica de ruídos distorcidos sem sentido, para sim soam como simples ruídos, poluição sonora, a ex -sinfonia da cacofonia verbalizada,desumanizada em sua falta de identidade, refletindo o caos impessoal e gelado desta cidade.
Ar carregado, pessoas anônimas como gado, anômalas nas tentativas desesperadas de afirmação  de sua normalidade, sociedade de imposição.Umas querendo ser mais comuns do que outras, parecerem o mais iguais possível, para não parecerem doentes,estiga terrível que vive a as aterrorizar !
Poses em cartazes qual sereias em gritos de convicção, sociedade em convulsão.
Pedintes famintos, miseráveis aprofundando-se no gargalo cíclico e ciclópico do crime que jaz avantajado como câncer na sociedade,irônico em contraste com a falsa imagem de riqueza das propagandas coloridas de neon, sociedade em convulsão, agora regurgitando a miséria  pelas vias marginais como as pessoas desafortunadas da cidade, margeando a incompreensão e impiedade da sociedade que vende sonhos escravizando as massas.
Tudo isto vejo, assisto, contemplo e analiso. Já fui assim. Não sou mais.
Sou mais. Agora sou mais. Sou diferente para melhor. E daqui do alto do mais alto dos edificios, me sinto acima da sociedade. Meu nome é Uthuu , a ex mendiga, fruto do que vi, vejo e verei,contemplando um futuro imprevisível do qual nada sei, futuro que é também meu passado,presente de estar ausente, pois o que fui continua a ser para outras e outros como eu,não sei se sorte,afastamento da Morte?Não, da vida de todos nós este é nosso Norte, inevitável  tanto quanto inacreditável é o sonho de não chegar um dia,inevitabilidade que nos envolve 'a nossa revelia, para a qual de nada adianta a rebeldia,só me resta ser forte para com galhardia este Mundo, agora visto de outra posição por enquanto, enfrentar !

FIM

Cristiano Camargo

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