sábado, 9 de agosto de 2014

Naquela Fria manhã de Outono




Como a novelinha "Antes daquela Fria amanhã de Outono" terminou ontem, a partir de hoje, começa sua continuação, "Naquela Fria Manhã de Agosto".Para não quebrar a continuidade, decidi colocar os episódios co m a numeração que já estava no primeiro volume, por isto, continuará de onde parou, ou seja, o primeiro episódio do segundo volume será considerado o Episódio 17.


 
Naquela fria Manhã  de Outono


Episódio 17



Kyoto,Japão,22 de Setembro de 2007:


.Naquela fria manhã de outono, as folhas multicoloridas caíam, levadas pelo vento,enquanto o sol raiava majestoso trazendo ao novo dia que se iniciava todo seu brilho e esplendor,enchendo toda a paisagem de cores, banhando-as de luz, e, qual maré que recua, também as sombras se afastavam.
A brisa macia e leve que carregavam as folhas coloridas como o céu que resplandecia também carregava lágrimas cujos olhos queriam esquecer...
Nem o trinado alegre e inocente dos pássaros  conseguia aliviar daquele pequeno coração a mágoa e a tristeza que tanto lhe pesavam. Um sentimento profundo de saudades inundava aquela alma atormentada  e aumentava o ritmo das lágrimas que caíam, que aquelas mãozinhas tão pequenas já não podiam mais cobrir.
A angústia pulsante denunciada pelos suspiros e soluços  descompassados parecia não querer deixá-la mais, contrastando fortemente com a alegria de viver que a rodeava.
Maki olhava para si mesma e não tinha coragem de olhar para o céu.
Os campos verdejantes que se viam a perder de vista na verdade eram parte de um cemitério,  e as pessoas que lá passavam impassíveis  para ela não tinham expressão, nada significavam.
Ela não tinha vontade de ir a lugar algum.Do  bolso aberto de seu casaco de camurça marrom pendia um pequenino retrato,de certa forma responsável por tanta dor.
Era doloroso perceber que a vida continuava, enquanto para ela havia cessado, ou ao menos, havia cessado de fazer sentido.
Sua saia xadrez esvoaçava com o vento que aumentava, mas ela parecia não se importar.
Ela se sentou no chão e abraçou as próprias pernas, e o que procurava não estava sequer em si mesma.
Uma mão pousou em seu ombro direito.
-Ei, ei, o que foi que aconteceu, menina?
Disse uma voz macia, de timbre algo grave.
Assustada, ela se levantou imediatamente, cabisbaixa.Estava envergonhada por estar chorando na frente de um estranho.
-Por favor me desculpe, senhor...
-Não há o que  desculpar, mocinha.Como você está triste !
-Obrigada, sempai.Ai, que vergonha, devo estar horrível deste jeito...
Maki não queria que ele percebesse que ela estava assim tão desolada.
-Imagine! Olhe para mim, garotinha, deixe-me ver seus olhos. Ah, não precisa me chamar de senhor, não sou tão velho assim...pode me chamar de Tetsuo.
Disse o rapaz , segurando o queixo da menina delicadamente.Ele carregava no seu visual e em seu rosto, talvez o efeito dos seus óculos de desenho clássico e sóbrio, um certo ar professoral.Seu olhar meigo e firme transmitia a ela uma sensação de segurança e afeto.
Ela permaneceu silenciosa.
-Mas que lindos olhos verdes...belos demais para ficarem vermelhos com tantas lágrimas.
-Ai, que vergonha! Disse a menina, escondendo o rosto.
-Existe vergonha em chorar? Existe vergonha em estar triste?Não é algo natural da vida? Todos que aqui vem perderam alguém e estão tristes, não há porque se envergonhar.Deixe-me limpar estas lágrimas,por favor.
Tetsuo pegou um lenço limpo e pôs se a limpar o rosto da menina com carinho e delicadeza. E ela percebeu,o que muito significou para ela.
-Obrigada, Tetsuo - sensei.
-Ah, não precisa me chamar assim tão formalmente, por favor me chame de Tetsuo – sempai .Afinal, quero ser seu amigo.Digamos,um amigo mais velho!
-Obrigada.
O rapaz então sentou-se de pernas cruzadas ao lado da menina.
-Sabe, não sou assim tão estranho para você.Se você se esforçar um pouquinho, vai se lembrar de um retrato no quarto de sua irmã.
Maki tirou do bolso o retrato que trazia consigo e olhou para ele, dizendo:
-Nami...hoje faz um ano que você me deixou ...
Maki voltou a chorar convulsivamente. Parecia que a dor lhe vinha em ondas contínuas, que a martirizavam e que as mãos em seu rosto não conseguiam esconder, pois as lágrimas escorriam  por entre seus dedos.
-Nami foi minha namorada, a pessoa que mais amei na vida...mas ela não iria querer  vê-la chorando assim deste jeito,Maki - san...por favor,não fique assim...
Tetsuo a abraçou com um carinho que só um pai teria.
-Na última vez que eu vi a su irmã, antes de ela ir para a sua casa, sabe qual a ultima coisa que ela me disse?
-O que ela lhe disse?
-Tetsuo, meu amor, se algum dia alguma coisa acontecer comigo, cuide da Maki.Eu ainda não tive oportunidade de apresentá-la a você,mas ela é uma menina adorável.Ela é muito sofrida porque perdemos nossos pais muito cedo, e tive de ser mais do que uma irmã mais velha, tive de ser uma mãe para ela...eu simplesmente adoro minha irmãzinha, e ela não tem ninguém no mundo que não seja a mim...nunca a deixe sofrer, Tetsuo, eu conto com você!
Maki não conseguia proferir palavra, só permanecer em seu pranto...
Tetsuo continuou a falar:
-Ela era um anjo, e tenho a certeza de que ela está velando por nos lá de cima, e nos receberá de braços abertos quando chegar o dia em que tivermos de ir reencontrá-la.Nós íamos nos casar em questão de meses, pois não agüentávamos mais namorar à distância, já que vocês moram aqui em Kyoto, e eu,até pouco tempo atrás, em  Okinawa. Finalmente eu te achei, Maki, já que você passou por tantas dificuldades e acabou sendo jogada num orfanato como fiquei sabendo.Agora você vai ter um lar, um lar de verdade, e eu quero ser o seu tutor, já que este foi o último desejo de sua irmã antes de o avião dela cair, e já que você ainda é menor de idade.Na verdade, eu já conversei com o pessoal do seu orfanato atual e já entrei com a papelada no Juizado de Menores, e me autorizaram a ficar com você, por isto que eles liberaram você para vir visitar o túmulo da sua irmã- eles sabiam que eu viria encontrá-la aqui .No mês que vem você faz quatorze anos, não é?
Maki continuava em sua profunda tristeza e mágoa do mundo.
-Ah, Maki, não fiques triste assim...já não basta minha tristeza em lembrar dela também...alguém aqui tem de ser forte para poder ampará-la, não é? Mas eu também estou sofrendo muito...
Tetsuo se levantou e abriu os braços.
-Estou aqui para te querer bem e te proteger, cuidar de você! Conte comigo para sempre, Maki! Agora vem, vem para o meu coração,eu a recebo de braços abertos, você sempre será para mim como se fosse minha filha!
Maki o abraçou com desespero. Dos olhos dele também botaram lágrimas. Parecia que  ele abraçava à Nami, como se ela vivesse novamente. O calor do abraço era o mesmo!
-Ah...se Nami pudesse ver isto agora...ela iria ficar tão feliz, estaria tão orgulhosa de nós...
Disse Tetsuo soluçando, e era com esfôrço que as palavras lhe eram arrancadas da garganta,um sentimento, uma saudades que a ele parecia rasgar-lhe o coração.E ele podia sentir em seu peito o ritmo pesaroso do coração da menina ,o que lhe dava a certeza de que o sentimento dela era o mesmo que  ele sentia. Dois corações, um só sentimento: o amor por Nami...
Agora podia –se entender porque Maki não tinha coragem de olhar para o Céu!
-Naquele dia, antes de ela ir vijar para ver você, Tetsuo- sempai,ao contrário de outras vezes, eu não pude dizer à ela : boa viagem, boa sorte! Como eu sempre fazia. E ela foi embora para nunca mais voltar, Tetsuo- sempai. Eu não me despedi dela...não me despedi dela...Nunca vou me perdoar por isto!
-Ah, minha pequena  Maki,não pense assim...você sempre a teve em pensamento, e mesmo que as palavras não tenham saído, você desejou a ela uma boa viagem.Depois, ela não sofreu, porque foi tudo muito rápido,e isto mostra que de certa forma você a protegeu, não a deixou sofrer na hora de ir embora...
A menina olhou comovida nos olhos rasos de Tetsuo. Ele não tinha idéia do quanto este gesto significava para ela!
Ela o abraçou mais forte ainda.
-Obrigada, Tetsuo-san,muito...muito obrigada!
-De nada, minha queridinha! Vem, vamos embora deste lugar triste. Nami era tão alegre, tão cheia de vida, não iria gostar daqui. Vamos para casa, moro com meus pais  aqui agora, e lá você será sempre querida!
Agora sim ela percebia a luz do sol, sentia a brisa,se eternecida ao ouvir o canto dos pássaros, a beleza da vida parecia ter voltado aos seus olhinhos, de um brilho estrelado,e um sorriso iluminou seu rostinho, enquanto seus cabelos negros  e longos esvoaçavam ao vento. Ela sentia a presença de Nami pertinho de seu coração, aquecido pelo amor que sua irmã tão querida sempre lhe dedicou.Ela beijou o rosto dele e disse, em tom alegre:
-Vamos !
Tetsuo a levantou do chão e girou –a no ar, com o coração parecendo que iria arrebentar só  de ver a alegria dela voltar!
Abraçou- a de novo, e sentiu como se Nami estivesse juntinha dele novamente.Ele sorria de orelha a orelha.
E foram embora  pelas campinas, caminhando abraçados, enquanto o sol inundava  de luz e vigor  os caminhos por onde passavam, iluminando seus passos confiantes...




(Por continuar)

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