Então, quando ele
estava para fazer quatorze anos, algo terrível aconteceu para Nenshin: a avó
dele faleceu de senilidade, aos cem anos de idade.
Ele tivera a vida
toda um grande apego por ela, e a ela confessava todos os seus sentimentos,
abria a ela seu coração e contava tudo o que sentia.
Isto sempre foi
alvo de grandes ressentimentos da mãe de Nenshin, pois, por mais amor e carinho
que ela desse ao menino, ele sempre a preteria em favor da avó.
Naquele mesmo dia,
sem saber de nada, Saki chegou à casa dele para convidá-lo a sair com ela
naquele radiante domingo de sol, quando a mãe do menino a recebeu e contou o acontecido.
Saki quis ir embora, mas a mãe dele pediu para que ficasse e entrasse, quase em
tom de súplica.
Saki chegou à sala
e viu o corpo da avó do menino ser velado, a parentada parecendo alheia a tudo,
e o menino debruçado sobre o caixão chorando
desabaladamente, com um visível desespero em sua voz embargada, não
parando de pedir perdão para a avó morta.
Saki colocou a mão
no ombro direito de Nenshin, que olhou para trás, a reconheceu e subitamente,
para a surprêsa dela, a abraçou fortemente e chorou no seu ombro sem dizer
palavra.
Agora era a vez de
Saki se comover. Não apenas por sofrer por ver seu amado sofrer tanto,mas
porque ,era o primeiro abraço que recebia de um garoto, e principalmente por
que era o primeiro abraço da vida dele, e fora com ela, como o primeiro pegar
na mão.Ela, apesar de o sentir tão fragilizado, se sentiu protegida e aninhada
nos braços dele.Ela corou imediatamente de vergonha ao perceber que não apenas
aquele abraço estava sendo público,como principalmente seus pequenos seios
estavam espremidos contra o peito dele.Mas então ela sentiu o coração dele
batendo junto a seu corpo e sentiu que também ele sentia o coração dela junto
ao peito dele, e ela se virou um pouco de lado, de modo a aproximar coração de
coração e ela também chorou, pois parecia haver ali uma sintonia incrível, um
sincronismo entre as batidas dos dois corações, que os parecia unir.Não havia
mais dúvidas: ela estava completamente, totalmente apaixonada por ele e tinha
por ele total admiração!
Nunca mais ela
choraria daquela maneira e naquela intensidade na vida dela. Nunca mais?
De qualquer forma,
aquele dia foi para ela, como foi para ele, absolutamente inesquecível, uma
terna lembrança, guardada no coração com muito carinho.
Dias depois os
pais dele pediram para que ela fosse à casa
deles.
Quando ela chegou,
ele estava todo encolhido num canto, deprimido. Ainda não aceitava a morte da
avó, e sentia-se totalmente desolado e sem rumo na vida.
Ela bem que tinha
notado que ele tinha faltado da escola quase uma semana, e já estava sentindo a
falta dele.
A mãe dele fechou
a porta do quarto do garoto e ele e Saki ficaram a sós.
-Nenshin-kun... eu
estou aqui com você!
-Não adianta... vovó
não está mais aqui...ela me deixou, me abandonou...
Os olhos chorosos
de Nenshin guardavam em si uma enorme tristeza e mágoa, e se muitas vezes ele
parecia maduro demais para a idade na sua inteligência, em sua ingenuidade,
inocência e ternura ele parecia bem mais infantil do que a idade que tinha.
-Sabe, Nenshin-kun,
eu já te conheço há quase cinco anos, mas nunca tinha te visto assim. Sua avó
significava muito para você, não é?
-Sim, ela era tudo
para mim...
-Meu querido Nenshin,
eu jamais poderia, nem iria querer, substituir sua avózinha na sua vida, mas eu
posso te oferecer minha amizade, meu apoio, minha proteção, meu carinho, para
te ajudar a enfrentar a falta dela. Eu queria que você soubesse que a culpa não
é dela,ela não te abandonou, apenas foi morar em outro lugar, ela agora mora em
seu coração!
-No meu coração?
-Sim, bem aqui!
E ela tocou o
peito dele com a mão.
Ele, de início,
recuou um pouco, mas sentiu o toque agradável da mão dela, e permitiu que ela
continuasse o tocando.
Ela, feliz, pegou
a mão dele e colocou-a espalmada em cima do seio esquerdo dela, por cima da roupa. Ela
estava corada de vergonha, como ele, com seu olhar espantado, mas permaneceu
segurando a mão dele firme ali, não o permitindo tirar dali.
-Você consegue
perceber meu coração, Nenshin-kun?Ele está batendo por você!E sabe por quê?
Porque você também mora no meu coração!
-Eu também?Mas eu
não morri...
-Não precisa
morrer, para morar no coração...Nós moramos no coração das pessoas que gostam da gente,
estejamos vivos ou mortos. Depois que falecemos, nos mudamos em definitivo, aí
é para sempre !
Os olhos de
Nenshin estavam rasos. Para a total surprêsa dela, ele acariciou seu rosto com
a outra mão, e deu-lhe um beijinho no rosto!
Agora era a vez
dos olhos de Saki ficarem rasos.
-Saki-chan,
obrigado por gostar de mim!Eu também gosto muito de você!
Era um sonho!
Um antigo sonho se concretizava agora,
já havia anos que ela vinha sonhando em receber seu primeiro beijo, e
finalmente ele acontecera. E aquele toque tão suave daquela carícia, tão
meigo,o primeiro carinho de sua vida, aqueles olhos, aquele olhar comovido de
derreter o coração...Ela começou a chorar de alegria soluçantemente, ela nem
conseguia acreditar...
Ele também chorava
e a abraçou forte, e ambos ficaram a chorar nos ombros um do outro...
Naquela noite, ela
nem conseguiu dormir, só de ficar lembrando-se dos lábios dele no rosto dela e
aquela carícia... ela tinha vontade de enchê-lo de carinhos, carícias e
carinhos, afagos e beijinhos e abraços, fora um momento que ela queria que
tivesse durado para sempre!
Ela já tinha
tantas lembranças inesquecíveis dele!
Mas
uma séria concorrente estava por aparecer, ou melhor, várias. Agora que
avançavam para o final da adolescência, os embates das colegas de escola por
ele iam ficando mais sérios, e as garotas estavam dispostas a usar uma arma que
Saki não tinha , ao menos até então , coragem de usar: a sensualidade, o
erotismo, a tentação do clamor do sexo !
Ela
começava a perceber, com tristeza, que aquela inocência de namorico não poderia
durar muito mais, e que, como ela sabia que ele jamais teria coragem de fazer
isto, ela é quem teria de se confessar para ele e pedi-lo em namoro. Namoro de
verdade mesmo, com toda a intimidade que o termo pressupõe.Mas só de pensar
nisto ela já corava da cabeça aos pés de vergonha, e seu dilema era: se ela não
agisse logo, outra o faria,e pior, poderia levá-lo para a cama!
No dia seguinte,
para a alegria de Saki, Nenshin foi com ela para a escola.
Enquanto os dois
seguiam para a escola, ela foi notando o que nunca tinha reparado antes:
Todas as garotas
do colégio que com os dois se encontravam no caminho iam direto para ele, o
cercavam, puxavam conversa e a isolavam dele.
Ele era tão
ingênuo que não percebia a malícia dos interesses delas e conversava
alegremente com elas,com toda a ingenuidade e inocência. Elas vibravam e sorriam, com seus olhares apaixonados! Mas
no momento em que tentavam beijá-lo, ele saía correndo e elas iniciavam sua
perseguição!
Resultado: Saki
também tinha de correr atrás dele para tentar protegê-lo delas. Ela sabia que a
intenção daquelas meninas era levá-lo para alcova, e isto ela não queria, não
apenas pelos intensos ciúmes, mas também porque o queria ingênuo e inocente
para sempre, pois era assim que gostava de lembrar-se dele, e queria que sua primeira vez fosse com ele, e que a primeira vez dele também fosse com ela,mas ela queria tentar adiar isto o quanto fosse possível, com medo de ele perder sua pureza, e também por sua timidez e vergonha de pensar nestas coisas!
(por continuar)
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