quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Sensibilidade de Viver:Ensina-me a Amar -Episódio 42



Naquela noite, depois que Rina foi embora, Lune não conseguia mais dormir. As memórias de todos os poucos mas preciosos momentos em que ela e Takeo ficaram juntos povoavam sua mente de modo persistente.


Ela nem tinha se dado conta, horas depois, de que já havia amanhecido, e foi necessário o despertador tocar para que ela percebesse que estava atrasada para a escola e emergisse das profundezas dos seus pensamentos!
Lune então abriu o armário, enquanto a camisola dela caía no chão, e procurou um uniforme.
Ela sempre odiou a tradição de uniformes tipo marinheiro das escolas japonesas, e sempre odiou mais ainda ter de usa-los!
Remexendo na gaveta de lingeries, Lune segurou a que tinha comprado no shopping naquele dia de chuva na mão e as lembranças lhe vieram 'a mente outra vez.
Antes que muito a ativesse, escolheu outra, não tão sensual nem tão decotada e a vestiu.Logo o uniforme estava bem ajustado no corpo dela e a voz da mãe dela a chamando para o café da manhã soou.Lune desceu as escadas correndo, e a família dela já estava reunida na mesa.
Eles estavam acostumados ao silêncio dela. Ela procurou ignorar as brincadeiras de seu irmão , e as fofocas  irmã  .As conversas entre todos eles a incomodavam, sempre a incomodaram, pois não a deixam pensar!
Foi com alívio que Lune terminou o café da manhã, pegou sua mochila, calçou seus tênis na entrada da casa e saiu para ir à escola.Seus irmãos saíram também, mas como  Lune  sempre fazia, apertou o passo e logo os deixou para trás.
O dia estava morno, abafado, o céu estava pesado, e ela pressentiu que não demoraria a chover.
Mas seu coração estava leve, pois uma esperança, apenas um fio dela, dizia a que desta vez eu encontraria o Takeo na escola!
Ao chegar lá,Lune evitou as colegas  , com exceção de Rina, que a recebeu com alegria.
-Você viu o Takeo por aí?
-Não, ele ainda não chegou!
Um frio percorreu a espinha de Lune,que tive um calafrio!Cruzou os braços como se sentisse frio.
-Calma,Lune,ele me disse que viria hoje!Ah, agora sim, é tão bom ver este sorriso iluminando seu rosto!
Então adentraram a classe, mas ele ainda não estava lá.Quando a primeira aula estava para começar,repentinamente a porta se abriu. Era Takeo, impecável em seu uniforme preto!
Lune acenou para ele, para que ele se sentasse ao seu lado, mas para a surprêsa dela, ele a ignorou e sentou-se no fundo da classe!
Rina, que estava sentada atrás de Lune, foi até a carteira dele.Lune quis ir, mas Rina  pediu para que ela não o fizesse.Uma onda de desespêro  percorria o corpo de Lune, e o pensamento de que ele não mais a amasse, não mais a quisesse,  não saia mais da  mente dela. Seus olhos estavam rasos!
Lune se perguntava o que estava acontecendo consigo, ela  que sempre fora tão compenetrada em seus estudos e pensamentos e que nunca ligava se algum colega olhava para ela ou tentava a cortejar! Simplesmente ignorava as pessoas.Ela ficava pensando no quanto ela tinha mudado, e que ela não estava se reconhecendo, ela nunca fora assim!Repentinamente  veio a sensação de que ela estava cercada por olhares masculinos,sequiosos,sensuais,desejosos do seu corpo,olhar que devora e explora sem piedade,como presa à ser consumida ,olhares frios e objetivos ,horríveis,que passavam a impressão de serem capazes de ver o que havia por baixo das suas roupas, a despiam inclusive da sua alma,nudez como vazio,inexistência,como se seu corpo fosse uma casca, uma concha vazia que tivesse por objetivo único saciar a volúpia ,os desejos e taras dos homens,mero objeto,um arrepio percorreu sua espinha, sentiu um calafrio,cruzou os braços em desespêro,sentindo-se a mais solitária, carente e miserável das criaturas,sem prumo, sem nexo,sem sentido,sem nada.Nunca tinha se sentido tão insegura na vida!
Mais parecia uma alucinação, algo de paranóia,seria muita presunção achar que todos os homens da sala estivessem olhando para ela,havia várias outras garotas na sala mais belas e com mais corpo do que eela, ela pensava consigo, e ela não era a única no meio de dezenas de homens como ela se sentia!
Mas Lune foi abrupta e brutalmente tirada dos seus pensamentos  pela visão  do Takeo pegando nas mãos da Rina, e logo depois a abraçando,ela em pé e ele sentado.A cabeça dele estava encostada funda entre os seios dela!Lune estava agora furiosa, ainda mais que ela acariciava a cabeça dele com carinho.E desta vez o que ela via era real !
Lune dirigiu à ele um olhar furioso e ditatorial, e Rina tremeu ao perceber como ela estava!Mas Takeo a fitou com um olhar perdido, balançando a cabeça como quem desaprovava a reação dela  e voltou a conversar com a Rina,que se desembaraçou dele rápidamente,corada de vergonha,e logo ela estava voltando, olhando para o chão...
Mas pior foi a reação da classe, especialmente dos rapazes, que ao verem a Rina e o Takeo abraçados, ficaram todos olhando para os dois, com uma expressão de desejo nos olhos,e quando  Rina veio se sentar atrás de Lune, eles se amontoaram em volta da carteira de Takeo, perguntando se ele tinha  trocado Lune pela Rina, e exigindo que ele a beijasse!
Lune se sentia arrasada! Como um campo devastado pela guerra, sentia-se árida,inerte,assistindo passivamente seus sentimentos furiosamente duelarem dentro de si como samurais rivais!Inveja, ciúmes,confusão,insegurança, tudo apertando sua garganta como se ela estivesse numa forca e o cadafalso fosse retirado lentamente debaixo de seus pés!Não conseguia pensar na sua amiga tão querida, a única que eu tinha, como sendo suaa rival, mas sua consciência ficava tentando inocular em Lune o veneno desta idéia terrível,e a idéia de ter de disputar, ou mesmo já estar disputando com ela o amor do Takeo parecia uma serpente peçonhenta à enlaçar seu coração!O veneno desta serpente seria o fato de que Lune já tivesse perdendo, ou mesmo tivesse perdido, a disputa,sentindo-se derrotada, humilhada,exasperadamente recriminando-me por sua incompetência e inépcia, sua inexperiência amorosa e sexual açoitando-a a consciência com o chicote furioso da culpa, pesadelo monstruoso de perceber aquela que ela sempre admirou como uma mestra como uma megera dominadora, ditatorial e sufocante em sua crueldade ilimitada !
Então lhe veio novamente a sensação de que os garotos da sala estivessem olhando para ela, e percorreu-lhe o corpo um desejo invejoso,como que querendo que todos eles a quisessem, olhassem para ela com desejo sexual, a despissem com o olhar,uma obstinada carência por se entregar sádicamente, desejo incontrolável, selvagem,desesperado,alguém tinha de a querer!
Era assim que Lune se sentia,mas ao mesmo tempo a sombra ameaçadora de Rina parecia lançar-se sobre a sala toda e abarcar todos os garotos, a fazendo sentir-se ainda mais sozinha, desamparada ante o monstro dominador e perverso,tudo era para Rina, ninguém para ela, sentimento de abandono a corroer-la por dentro,consumindo sua essência,inexistência, vazio...
Então a professora chegou,resgatando Lune brutalmente de seus delírios e ao voltar à realidade choquei-se em perceber que não podia fazer mais nada no momento! Mas ouvia a Rina choramingar baixinho atrás dela, pedindo desculpas sem parar.Na verdade Lune não percebera que ela já tinha saído de perto de Takeo e voltado 'a carteira dela.
Quando chegou o intervalo Rina , ao ver que Lune ia falar com Takeo, interpôs-se e pediu para conversar com ela primeiro.
Foram à cantina, e enquanto almoçavam, iniciaram nova conversa:
-Lune, por favor, a culpa foi minha, me desculpe!
-Você traiu minha confiança, Rina! Você me disse que jamais namoraria seu primo!Eu confiei em você!Você não tem idéia de como eu me senti depois de tudo que vi !
-Não se deixe levar pelas impressões imediatas, Lune....Ele me disse que estava carente , pegou na minha mão e me abraçou, mas eu e ele não estamos namorando...Nem eu a trai, muito menos! Você sabe muito bem que eu jamais trairia sua confiança, Lune!
-Então por que ele veio abraçar você quando está carente,e não eu?
-Ele estava envergonhado de ter deixado você tão preocupada, de ter sumido, e achou que você estava brava com ele!Ele achou que você não o entenderia, especialmente depois do olhar que você deu para ele!
-Claro que eu não o entendo, Rina!
-Não precisa gritar assim, Lune...
-Aquele covarde!Está com mêdo de mim!Como ele quer que eu não esteja brava com ele?Agora me explique porquê você se deixou abraçar, não se livrou logo dele, e ainda por cima o acariciou !Você tem idéia de como eu me senti?
Então Lune explicou 'a Rina em detalhes seus devaneios e sentimentos,entre lágrimas abundantes.
Rina estava de olhos rasos.Segurando o rosto nas mãos, com os cotovelos na mesa, mal contendo o choro, ela disse:
-Desculpe,Lune, por favor me perdoa...você tem razão, eu não tinha idéia de como você estava se sentido,estou arrasada,envergonhada,eu te machuquei, te fiz mal,tão mal...não foi minha intenção, minha amiga, juro que não foi, a última coisa que eu quero na vida é te fazer se sentir deste jeito,permita por favor à esta sua amiga sonsa e egoísta ao menos tentar conforta-la! Eu jamais, jamais iria querer nada com o Takeo, nem seria nunca sua rival,preferia morrer, eu juro, juro mesmo...
Rina  abraçou Lune e seus uniformes estavam agora molhados na altura dos ombros e das costas.
Quando se recompuseram, nossos olhares eram doces e ternos uma para a outra e Rina procurou explicar o que aconteceu, ainda enxugando as lágrimas com os braços:
-Ele...ele estava chorando, Lune-san, ele me dizia que te ama e estava com saudades de você, mas não tinha coragem de te enfrentar!
Lune estava chocada!Mas nem pôde responder, pois, recomeçando a chorar, Rina saiu correndo da mesa, sem nem mesmo terminar o almoço.
Lune ficou sem apetite, e seu cérebro estava em silêncio, um silêncio que a assustava e constrangia!Ela saiu da mesa e foi dar uma volta pelo pátio, quando reconheceu Takeo em pé, recostado à uma àrvore.
Os doces olhos de Lune se encheram de lágrimas, e  ela cobriu o rosto, não conseguia mais conter o choro!
Então senti braços a envolvendo e a abraçando por trás,Então Lune virou-se de frente para ele,recostou seu rosto no ombro dele e pôde sentir  a ele acariciando suas costas com um carinho muito bem conhecido.
Lune olhou para o lado, quando uma lágrima dele caiu em seu rosto...
Ele murmurou, entre soluços , de modo vacilante:
-Me ....me perdoa...por favor...
A chuva então começou, e ele se afastou dela e saiu andando.
Molhada pela chuva,chocada e confusa, nuncaLune tinha sentido tanto frio assim na  vida dela...

(por continuar)

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