quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Poesia: Amor Urbano



Amor Urbano


Imerso em meio à luminosidade
Fria e densa da cidade,
Inverso de ser,
Estou a correr!

Eis que as avenidas são as artérias da metrópole,
Estendendo seus tentáculos qual um cefalópode,
Espelhos que refletem a velocidade,
Com que a imensa riqueza se afasta da miséria extrema,

Tristes espetáculos,
Que ninguém quer ver!
Pelas avenidas velozes corre a Vida,
Mera existência,
Inverso de ser vivida !


Oh, mas o que é esta carência,
Que impede as pessoas de vir a Ser,
Vazio que acelera a brevidade vívida,
De alguma emoção que no asfalto jaz perdida!

Solidão é o combustível que faz a cidade brilhar,
Fraca luminescência,
Tamanha a dependência,
Que abre jurisprudência,
Do Ter sobre o Ser,
Corações atropelados,
Agonizam pelas ruas,
Suas paixões jazem nuas,
A multidão não delas não quer saber!

No meio disto tudo,
Sigo mudo,
Varando as madrugadas ,
Em uma motorcicleta possante,
Passando pelas pessoas entediadas,
Acelerando num rompante !

Procuro por você,
Mas em nenhum lugar você está,
A névoa da insensibilidade,
Que das ruas fétidas emana,
Tenta em vão me cegar,

Não sinto o frio da multidão me alcançar,
Sou diferente,
Sou diferente!
Minha mente está a bradar,
Para não enlouquecer,
Nem à massa insossa dos comuns me misturar,
Precisa haver alguém diferente também,
Então procuro seus olhos que rasgam o frio neon
Onde está seu olhar?

Quais faróis que brilham pelo manto espesso,
De concreto, aço, vídeo e gesso,
Seus olhos como estrelas estão a me guiar,
Procuro por você,
Preciso de seu amor todos os dias,
Mas você não está em lugar algum!

Correndo pelas artérias da cidade,
Qual sangue que pulsa,
E da Mente expulsa,
Qual pústula repulsa,
A fria individualidade,
Da corrupta cidade,
Que quer me padronizar !

Faço com a moto curvas velozes,
Fugindo do caninos afiados,
Dos Rótulos atrozes,
E das Múmias de jalecos,

Montados em suas seringas e comprimidos ,
Voadores e velozes,
Querem me dominar,
E minha voz amordaçar !

Atrás deles os medicados mortos vivos,
Zumbis  cobaias da mais recente tecnologia,
Séria, insensível e fria,
Me perseguem para que eu fique igual a eles!

São Automáticos e Condicionados,
Por coleiras de artigos científicos,
De espinhos afiados e empíricos,
Espelham a ferocidade,
Da furiosa cidade,
Que faz tentar provar insana
A minha Mente ,
Só porque ela é diferente,
Para eles subversiva é a sanidade !

Tantos olhares reprovadores,
Que não sentem mas causam dores,
Em nenhum deles está o que procuro,
Correndo pela cidade,
Seu Olhar!

Alguém igual a mim quero achar !
Luzes multicoloridas,
De prédios sem fim,
As luzes vermelhas de mercúrio,
Não mostram o seu sorriso,
Também nelas não está !

A realidade concreta,
De asfalto, vidro, gesso e aço,
Com sua igualdade discreta,
Esconde uma feiúra nada secreta,
Que controla das pessoas cada passo,

São olhos de câmaras,
Que se mexem e delatam,
As mentes brilhantes que se dilatam,
Para com sua névoa fria e espectral,
Excluí-las com crueldade fenomenal,
Só iguais devem permanecer no curral!

Percorro em última marcha,
Longos túneis de incertezas,
Altos viadutos de memórias,
Imensas praças de vitórias,
Insanos cruzamentos de uma vaga certeza
Com uma imprecisa impressão,
Que que você estaria por aqui em algum lugar,

Os estáticos semáforos feito autômatos,
Programados para deter os anômalos,
Só tem em seu limitado repertório,
Três autoritárias mensagens a me comunicar:
Pare, Preste Atenção, Siga
Querem que meus olhos tenham o foco,
Concentrando todo o Mundo numa só direção,
A que o Grande Irmão nos mandar !

Também nestes cruzamentos automáticos,
Com seus Estigmas enfáticos,
Juízes Lunáticos,
Perseguidores sistemáticos,
Seu coração não está!

Olho para o  Céu,
Com todo um firmamento a brilhar,
Nele estão as estrelas,
É lá que se reflete o brilho do seu olhar!

Por fim chego ao meu refúgio,
Ainda não a encontrei,
Mas continuo a procurar,
Amanhã é outra noite,
E outra esperança amanhecerá,

Tão certa ela quanto minhas convicções,
Que alimentam minha moto veloz,
Que corre contra  a exclusão feroz,
Que sai à caça como fera,
E ataca quando menos se espera,
Os Diferentes que encontrar !

Esta moto é minha Determinação,
Cujo motor é o meu coração,
Frenético e rápido como um guepardo,
Minha busca não cessará,
Enquanto eu não a encontrar,

Para juntos iluminarmos
E aquecermos a cidade,
Com nossos corações,
Nossas puras emoções,
A metrópole inundar,
E humanidade nas pessoas
Novamente despertar !

FIM

Cristiano Camargo





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