domingo, 3 de agosto de 2014

Sensibilidade de Viver Origens-Episódio 11





-Andou lendo Kierkegaard, filha?
-Sim, e Lukáks também !Depois da minha mãe brigar comigo, passei numa livraria e fiquei lendo estes dois !Então pensei, ah, estou com saudades, vou reler "Migalhas Filosóficas "!
-Um dia você terá saudades de seus pais também... pronto, aqui está! Mas por favor deixe para ler depois do jantar, pois daqui a pouco vamos ter pizza!
-De quê?
- De tomates secos, a que você mais gosta !
-Obaaa ! Só o senhor mesmo, paizinho, sabe direitinho do que gosto !
-Bom, filha, eu te conheço há quinze anos,tempo suficiente para saber o que você gosta e o que você não gosta, não é?
Disse Kazuo com ironia.
-Verdade, paizinho ! E onde está a mamãe?
-Ora, que milagre, você se preocupar com ela, está deitada !
-Ah, se ela está deitada, eu não preciso me preocupar com ela !Vou tomar um banho e me trocar!Tchau !
E ela deu um beijo na testa do pai e subiu as escadas correndo, com o livro na mão, nem percebendo que sequer tinha agradecido ao pai.
No jantar, Momiji, recém acordada estava surpresa ao ver Lune tão bem. Na verdade, fazia tempo que não a via animada daquele jeito!
-Será que ela arranjou namorado, Kazuo-san?
-Não, Momiji,bom, na verdade arranjou sim, e se chama Kierkegaard!
E Kazuo caiu na risada.
-Filha, você arrumou um namorado estrangeiro?
Ao ver o olhar de incredulidade da mãe, Lune não conseguiu esconder o riso baixinho, com a brincadeira do pai.
-É um filósofo, sua boba!Estou lendo um livro dele !
E continuou comendo a pizza tranquilamente, como se nada tivesse acontecido naquele dia.
Naquela mesma noite,já n cama, Momiji interpelou Kazuo:
-Como é que ela consegue ficar assim depois de tudo que aconteceu, só de ler um livro?
-Ora, querida, você esqueceu que ela é Asperger como eu?
-Ah, é mesmo, às vezes eu esqueço que você é também !
E foram dormir.
No dia seguinte,Lune foi para a aula como sempre, e para variar, separada da irmã.
No caminho, um bando de rapazes de bicicleta, estudantes da mesma escola, e conhecidos como jovens delinquentes,passaram correndo por Lune e levantaram sua saia.
-Ei !Estúpidos, pervertidos !
Gritou Lune, corada de vergonha e com raiva.Os garotos pararam suas bicicletas imediatamente, desceram delas e as cercaram.
-Do que você nos chamou, sua gostosa?
Lune desceu um tapa na cara daqueles no moleque que a interpelou .
-Como ousa me chamar assim,seu tarado?
-Ah, mas você é mesmo, nós vimos sua calcinha azul bebê !
Disse outro, que recebeu outro tapa, e Lune agora estava roxa de vergonha, e instintivamente colocou as mãos sobre as nádegas, pra impedir que tentassem levantar sua saia de novo.
-Escuta aqui, seu idiota, sai fora daqui ou eu chamo a polícia !
-Ah, a gostosinha está bravinha ! Vamos passar a mão nela, gente !
E os rapazes fecharam o cerco. Agora Lune estava assustada! Eram seis rapazes altos e fortes, com sorrisos maléficos e pervertidos nos rostos, prontos para estuprá-la.Ela tremia de pavor, e não sabia o que fazer, até que sentiu um deles a agarrar por trás, segurando seus braços e encoxando fundo nas nádegas dela.
-Vamos tirar as roupas dela !
E  várias mãos começaram a se aproximar dela, e agora ela suava frio,apavorada !
SPAAAF !
Uma mochila voou no rosto de um deles e um grito soou:
-Tire as suas patas imundas d minha irmã, seu nojento !
Era Ruri, que vira o que estava acontecendo e correra em socorro da irmã.
-Huum, uma baixinha invocada! Vamos pegar ela também !
Mas não tiveram tempo, pois logo atrás de Ruri estava Rina, que foi com tudo em cima deles. Aproveitando a deixa, Ruri também voou para eles aos socos e pontapés. Quando viram, os rapazes estavam sendo cercados por uma muralha de garotas, que passaram por ali, e já fartas das aprontações daquela turma, resolveram ajudar!
Agora em menor número, os covardes pervertidos pegaram suas bicicletas e fugiram.
-Tudo bem com você, Lune-chan?
Era a voz de Ruri,que estendeu a mão para ajudá-la a se levantar, pois tinha caido sentada no chão.
-Tudo bem, Onee-chan! Obrigada. E Lune se levantou.
-Vamos nós três juntas, Lune-san ! Você se machucou?
-Só meu orgulho, Rina-san, obrigada !
E as três seguiram para a escola.
No intervalo, sempre observada 'a distância pelo eternamente apaixonado por ela Takeo, Lune viu Ruri, que era de outra classe, entrar na sua sala de aula e conversar com Rina. Dali há  pouco sua irmã veio falar com ela:
-Onee-chan, hoje você vai almoçar comigo no telhado da escola, não com a Rina, quero conversar com você.
-Tudo bem.Não sei o que eu teria para conversar com você, mas vamos lá !
Depois de ir buscar seus sanduíches na cantina, as duas subiram as escadas e ganharam o terraço do telhado, e se sentaram no chão, junto 'a grade alta que as impedia de cair do terceiro andar.
-Lune-chan,eu sou sua irmã mais nova, mas a gente nunca conversa e...eu queria ser mais sua amiga!Quando estamos em casa você sempre me ignora, nunca vai para o meu quarto, a gente nunca sai juntas para se divertir...você já notou que você não participa da família?Nem parece que você faz parte...
-Ruri, nós partilhamos o mesmo pai e a mesma mãe, nós nascemos da mesma mãe e compartilhamos a mesma casa, isto não é fazer parte de uma família?
-Fazer parte de uma família não é só isto !Você nunca vem assistir televisão junto com todo mundo, ficam todos na sala e só você fica sozinha no seu quarto!Quando a gente era criança, você nunca queria brincar comigo, ou brincava sozinha ou ia brincar com a Rina ! Na verdade você trata a Rina como se fosse a sua irmã e eu como uma completa desconhecida !
-Ah, tenha paciência, pare de se queixar, menina ! Não somos mais crianças para ficar brincando. E tenho mais o que fazer do que ficar assistindo novelas e filmes idiotas na televisão !Depois,a Rina tem as conversas filosóficas pra debater comigo, e você, o que tem a me oferecer?Por favor, me dê uma razão lógica para ser sua amiga !
Os olhos de Ruri ficaram marejados.
Ela se levantou e , de frente para a grade de malha de aço, ficava dando soquinhos na malha, de cabeça baixa:
-Você não entende !Você não entende mesmo ! Pombas eu te salvei hoje de manhã, fui eu quem chamou a Rina, e me arrisquei por você e porque?Por que eu fiz isto?
-Por que você quis, Ruri-chan...
-Não ! Foi por que eu sou sua irmã e te amo, sua boba !Boba !Droga, eu deveria ter deixado aqueles moleques te estuprarem no meio da rua, mas eu..eu...eu não consigo, eu não aguento ver você sofrer,eu te amo ! Eu só queria ser sua amiga, algo tão simples, custa tanto assim você entender?Custa retribuir?Como você é fria,como você é insensível, a sua vida é só filosofia, filosofia, filosofia !Mais nada !Que ódio, eu nunca vou ser tão inteligente como você, mas para quê você usa sua inteligência?Para machucar quem te ama?Eu odeio você ! Eu te odeio !
-Bom, acho que já conversamos o que tínhamos para conversar, vamos voltar para a classe que o sinal já vai bater.
Foi quando alguém se aproximou e abraçou Ruri.
-Na verdade ela é sensível sim, quem a conhece a fundo sabe disto. Mas ela ainda não está pronta para entender. Mas pode ter certeza, Ruri-san, um dia ela terá saudades de toda a família!
-Obrigada, Rina-san, eu precisava ouvir isto...
-Está tudo bem, tudo bem, pode ir que eu tomo conta dela, vai tranquila, eu gosto muito de você, minha amiga.E me desculpe se afastei sua irmã de você...
-Imagine, Rina-san, você não tem culpa de nada, obrigada, eu vou indo !
Disse Ruri, enxugando suas lágrimas, e logo ela ganhou a escadaria.
-Vamos indo, Lune?
-Vamos !
Quando o fim de semana chegou, o telefone tocou. Era  a avó de Lune,e quem atendeu foi Momiji. O avô de Lune estava na UTI, após um grave AVC, e eles teriam de ir para Hiroshima para ir vê-lo. Porém, naquele mesmo dia, Otaru adoeceu. 

(por continuar)

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