Episódio 12
Pela primeira vez, Maki
teve de enfrentar uma dura e pesada realidade que lhe recaía como Atlas
carregando o Mundo.
Na verdade, ele tinha de
enfrentar, mas inconscientemente resolveu não enfrentar; caiu dura, estatelada
no sofá,olhos esbugalhados e lacrimejantes,paralisada de pavor!
O Terror ! Ah,o terror de estar sozinha
no mundo, da liberdade de ser solta dos grilhões da dependência física, emocional e financeira de
Nami!
Tivera sua alforria...
Mas aquilo custara à ela
caro demais!
Por dois dias e duas noites
ela permaneceu assim,imóvel.
Claro que as colegas de
escola ficaram sabendo da morte de Nami, já que o nome dela apareceu nas listas
de passageiros mortos nos telejornais e nos jornais. Sem falar de internet.
As quatro colegas foram à
casa dela, escutaram a TV ainda ligada,tocaram a campainha até cansar e
nada.Foram a porta e experimentaram a maçaneta.A porta estava
destrancada.Entraram.
Viram a menina paralisada
no sofá, catatônica,e tentaram acordá-la.Nada.
Ouviram o coração, ela
estava viva.Jogaram água na cara dela,fizeram cócegas e nada.Desesperada, uma
delas lhe deu um forte tapa no rosto.
Maki acordou.Abriu e fechou
os olhos.Quando viu as garotas em sua cara, teve um ataque histérico:
-Nami disse que vocês
estavam proibidas de vir aqui !Saiam daqui ! Saiam daqui!
-Mas Maki-san, a Nami-san
faleceu!
-Não faleceu,
Kotone-chan!Não faleceu não!Quem te disse que ela faleceu?A Nami-nee-san vai voltar
amanhã! Ela volta amanhã e vou fazer uma torta de morangos para ela, que ela
adora!
-Maki-chan, encare a realidade,
o avião dela caiu, não houve sobreviventes!
-Foi outro avião, foi outro
avião!Nami está viva ! Ela vai voltar amanhã!
-Maki-chan, não minta para
si mesma...
-Eeeeelaaaa vai voltar
amanhãaaaa! Vocês não entendeeeem?
Maki berrou 'a plenos
pulmões,e continuou:
-Saiam daqui! Saiam
já daquiiiiii!
As meninas ficaram
assustadas com o descontrole da garota.Só que este descontrole ia piorar:
Maki começou a quebrar tudo
o que via na frente e jogar objetos nas garotas, e avançou em Kotone com
violência, enchendo-a de tapas, pontapés e socos violentos, como que movida por
uma força sobre-humana, berrando como uma fera!
Agora sim as meninas saíram
correndo de lá e trataram de chamar a polícia e uma ambulância.
Maki quebrou a casa toda,
num acesso de fúria totalmente descontrolado, e depois caiu ajoelhada no chão
da sala chorando convulsivamente,com uma dor que não cabia em seu corpo ou sua
mente!
Ela gritou ,ainda de
joelhos, mas sua voz mais parecia um uivo desesperado:
-Namiiiiii!Nãaaaaaaaaaao!
O pranto agora era histérico,
o rictus da loucura deformando seu rosto,ensopado de lágrimas, as marcas
sangrentas das unhas enfiadas nas carnes da face,e ela continuou quebrando tudo
o que havia na frente!
Urinou e defecou na
calcinha, de nervosa.Seus dias também se adiantaram e transformaram suas
pernas,pés, nádegas e virilha numa "sopa" nojenta de dejetos e
secreções malcheirosas.
Por fim as viaturas
chegaram, e foram necessários dois homens fortes para imobilizá-la e
aplicar-lhe uma injeção com uma dose
brutal de calmantes.Colocaram-na numa camisa de força e a levaram para um
hospital psiquiátrico, onde ela foi amarrada no leito.
Finalmente, quando ela
acordou, ainda grogue, as enfermeiras deram banho nela, trocaram suas roupas e
deram comida e água para ela.
Assim que a consciência voltou
completamente, uma psicóloga tentou entrevistá-la.
Tudo ia bem até a terapeuta
confirmar que Maki só tinha Nami de parentes e nenhuma amiga ou conhecida que
pudesse ficar com ela.Quando, no entanto, a psicóloga tentou dizer que agora
Maki estava sozinha pois sua irmã e tutora havia falecido,Maki teve outro
ataque histérico e se agitou tanto que regurgitou parte da sua refeição na
terapeuta.Não contente, Maki tentou esganá-la, e novamente teve de ser
imobilizada e sedada.
A psicóloga não viu outra
solução: Maki tinha de ir para um orfanato em regime de internato e ser
colocada disponível para adoção.
Alguns dias depois ela foi
levada, profundamente deprimida, ainda agarrada ao seu ursinho, ao orfanato.
Neste meio tempo, lá em
Okinawa, Tetsuo ficou sabendo da morte de Nami no desastre de avião.Ele
procurou localizar o corpo dela,viajando para Nara,e reconheceu o que restou do
corpo, pagou o translado e o enterro.
Ele sabia da existência de
Maki e lembrou-se das palavras de Nami, logo depois de fazer amor com ele, na
última vez que eles se viram:
"-Tetsuo,
meu amor, se algum dia alguma coisa acontecer comigo, cuide da Maki.Eu ainda
não tive oportunidade de apresentá-la a você,mas ela é uma menina adorável.Ela
é muito sofrida porque perdemos nossos pais muito cedo, e tive de ser mais do
que uma irmã mais velha, tive de ser uma mãe para ela...eu simplesmente adoro
minha irmãzinha, e ela não tem ninguém no mundo que não seja a mim...nunca a
deixe sofrer, Tetsuo, eu conto com você!".
Tetsuo
então se informou e descobriu que ela tinha ido parar num orfanato, para ser
adotada.Ele então entrou na justiça para cumprir o último desejo de Nami, e se
seguiu uma intensa e longa batalha judicial para conseguir a guarda da garota.
(por continuar)
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