Aquela manhã em que Maki
chegou ao orfanato ela nunca mais se esqueceu.Trazida pela assistente social
designada pelo Juizado de Menores,ela
foi entregue para a temida Senhora Miyasaki,dona
e gerente do orfanato que levava seu
nome.
Ela era uma mulher de
cinquenta e cinco anos,rígida, ríspida, tradicionalista, exigente, autoritária,
insensível, dura como rocha, com um coração de gêlo,que nunca sequer
namorou,quanto menos casar,com temperamento imprevisível e tempestuoso, dona de
um olhar tétrico,e de uma severidade e
ditatorialidade nazistas, impondo uma disciplina ainda mais rigorosa do que a
exigida dos militares.Com ela não havia perdão nem clemência para nada, muito
menos compreensão ou tolerância,mas preconceito havia de sobra.Para piorar, era
extremamente inteligente, e comandava as garotas do orfanato com mãos de aço!
Só de olhar para aquela
mulher altiva, elegante, magra, ossuda ,de cabelos curtos e negros e olhar feroz por detr´s de óculos redondos, Maki já ficou
apavorada!
Parecia que ela estava
entrando num presídio, e o prédio cinzento e sem graça em nada ajudava a
desfazer aquela imagem.
Porém, aquele lugar tinha
seus segredos sagrados, muito bem guardados.
E as crianças e
adolescentes, todas do sexo feminino,que ali habitavam,também pareciam
cinzentas e sem graça como o prédio.
Na verdade, existia ali
dentro uma elite, daquelas que eram as "Preferidas da Senhora
Miyasaki": em especial a líder delas,Mei Miyasaki, a sobrinha da dona do
orfanato.Esta não estava ali para adoção:a tia dela a colocou lá para que fosse
seu "braço direito", e denunciasse todas que saíssem da linha, e com
autorização para punir como quisesse quem não fosse do seu agrado.Mei montou,
com as outras três "Preferidas",
o chamado "Esquadrão Disciplinar Punitivo", e quem fosse
"eleita" para sofrer ainda mais do que se já se sofria
corriqueiramente ali,com as punições mais abjetas e absurdas,podia até
morrer.Havia até um boato de que uma interna teria morrido na instituição há
muitos anos atrás, mas nunca se obteve provas.O caso foi engavetado como sendo
suicídio e a menina diagnosticada como esquizofrênica,mas nunca se soube se era
esta de fato a verdade.
Havia, na instituição, até
uma pequena prisão secreta, no porão, e uma solitária também.
A sra. Miyasaki agradeceu
ríspidamente, e com pose arrogante, a assistente social, e pegou Maki pelo
pulso, apertando-o com fôrça, arrastando-a para dentro.
A menina foi levada ao
escritório da gerência, onde foi obrigada a responder um breve questionário
quase gritado pela Sra. Miyasaki.Depois ela chamou sua assistente, a Senhorita
Koyama.Esta conduziu Maki até o quarto das internas: era um imenso quarto
coletivo, com uns cinquenta metros de comprimento, por dez de largura, com
dezenas de camas de solteiro.Na verdade não eram exatamente o que se podia
chamar de camas: eram camas de campanha militares, duras como pedra e
extremamente desconfortáveis, e poucas tinham travesseiros, roupas de cama e
cobertores.Havia uma hierarquia tipo militar ali, e as novatas mal tinham
direito a uma cama, imaginem ao resto.Conforto, só para s veteranas.
As do Esquadrão
Disciplinar, honraria máxima, só perdendo em autoridade para a Assistente e a
Gerente,tinham quartos separados só para si, e camas de casal com colchões de
molas, além de banheiros privativos.Todas as outras tinham que dividir um
único grande banheiro,com apenas quatro
chuveiros e uma única bacia sanitária para as necessidades fisiológicas.
Outra ocorrência
secreta ali era a prática do lesbianismo,
comandada por Mei.Este fato, porém, era escondido da Gerente e da Assistente,
que nada sabiam,e quem sequer sonhasse em denunciar, era advertida de que seria
punida com a morte.
Maki chegou ao quartão, e
as garotas ali, que tinham entre cinco e dezessete anos de idade,a maioria
delas, pareciam serem absolutamente caladas e infelizes, totalmente submissas.Mas
as veteranas pareciam mais felizes, com, no entanto, um brilho maléfico nos
olhos,olhar de extrema arrogância e prepotência.
Ao ter a sua cama indicada, e depois ouvir as
instruções de que deveria guardar suas roupas e pertences no cesto de vime que
havia debaixo da cama, informada dos horários de café da manhã, almoço e janta,
e depois que toda a ladainha de descrição de todas as tarefas diárias que teria
de se empenhar, Maki esperou a Assistente sair do quarto para finalmente
deita-se de bruços e chorar copiosamente.
O ar era abafado, só havia
uma única janela pequena com grades,por onde não entrava muito ar,e ninguém
sentiu pena dela ou tentou consolá-la.Todas ali pareciam frias e duras como
pedras...
(por continuar)
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