sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Conto: O Suprassumo da Quintessência



O grande templo estava vazio. Na mais alta das torres do prédio , uma imensa abobada em uma sala redonda de generosas proporções estava ele. Sim, Ele, o grande e velho Mestre, o Guru, o Sábio. O todo poderoso mentor, senhor de todo o Conhecimento , a quem todos recorriam. Misto de filosofo , mago , sacerdote e professor , aquele ancião ossudo, baixinho , mas dotado de imenso crânio e; e’ claro, cérebro prodigioso , cuja inteligência ultrapassava a todos os recordes de Q.I. já estabelecidos ate hoje . Era considerado o Suprasumo da Quintessencia . Sentado no chão , sobre um tapete lustroso , de pernas cruzadas, cabeça baixa , mãos nos joelhos , parecia pensativo .
Seu nome era Paralucius Mandraglifus .
Um discípulo , jovem , inquieto e dinâmico , adentrou pela sala displicentemente . Foi logo perguntando :
- Mestre, mestre , tenho uma duvida... Aahn....desculpe - me mestre, o senhor estava meditando !
- Uuuuooooh ! Não , meu jovem, eu estava dormindo mesmo ! Ainda não sabe a diferença ? Humpf ! E você esta’ comigo a vinte anos !
- Mas, mestre, eu tenho uma duvida !
- Eu sei disso !
- Ooooh! Como sabe?
- Eu ouvi. Tenho cento e dezesseis anos de idade , mas não sou surdo !
- An...
- Qual e’ a sua duvida?
- E’ que um colega meu me fez um desafio. Ele me disse ...
-Você consegue pensar o impensável?
- Como e’ que o senhor sabe?
- Ah, isto e’ mais velho que o mundo, humpf ! Jovens , que vergonha eu ter sido um , um dia!
- Concordo!
- O que? Concorda? Concorda mesmo ? Não acredito!
- Acredite , Mestre, e’ verdade!
- Isto e’ que e ser estu... deixe para lá !
- Pois e’ . Mas o senhor sabe responder esta pergunta?
- Meu jovem. Eu tenho toda essa idade para que? E claro que sei ! Mas não sou eu quem tem que saber , você e quem tem  que descobrir. Vou procurar ajuda - lo. O que você respondeu ao seu estúpido colega ? Sim, porque só um ignaro tolo faz uma pergunta destas...
- Bom, eu pensei bem...
- Ih, lá vem tolice !
- Espere eu contar por favor, Mestre! Eu disse a ele : se pensarmos o impensável, ele se tornara pensável e não será mais impensável !
- Eu sabia, eu sabia que logo, logo ,  viria bes... bom, grande conclusão , e dai ?
- Eu continuei dizendo que se não pudermos pensar o impensável , ele não existira, mas ao mesmo tempo , estará provado que o impensável e’ realmente impensável e portanto existe !
- Urrr ! E ai, e’ só isto ? Isto e’ o máximo que você conseguiu?
- Não , tem mais !
- Ah, não, era tudo o que eu temia !
- Calma , Mestre. A paciência...
- E’ a Virtude dos Sábios ! Sabe quantas vezes você repetiu esta mesma frase idiota e sem sentido nestas ultimas duas décadas ? Vai, vai, continue.. meu destino e’ sofrer mesmo...
- Bom , ai ele me disse que tudo que pode ser pensado e’ pensável !
- Quanta argúcia ! Quanta criatividade ! Ironizou Paralucius.
- Ah, mas ai eu retruquei !
- Oh, oh, não! Outra vez não ! Vou ter de ouvir tudo de novo ?
- E’ , Mestre , eu disse a ele que se as pessoas podem pensar na existência do impensável , podem de fato supor que ele existe , admitindo portanto sua existência , então ele e’ pensável . Impensável e’ tudo aquilo que deve ser pensado como algo que não possa ser pensável. Ele existe , mas não o que ele representa .
- Brilhante dedução. Conclua. Ordenou, sempre irônico, o grande mestre.
- Se ele o que ele representa não existe , ele não representa nada . Então, ele não existe !
- Afinal de contas, ignóbil discípulo , ele existe ou não existe ? Se disser que ele existe e inexiste , eu te expulso daqui !
- Mas o que  mais eu poderia dizer ? Então eu não sei !
- Haja paciência ! Eu não quero machuca - lo... escute bem , meu jovem ; existem muitos modos de se ver alguma coisa. Existe o Pensável, o Impensável e o Meio Termo Dialético .
- Mas não da’  para saber se o impensável existe!
- Espere ! Tenha a paciência que não tenho ! Calma ! Senão eu e que vou ficar nervoso! Agora escute bem, crânio maciço !Antes de concluirmos se alguma coisa existe ou não, temos que supor que exista ou não ! Portanto a primeira coisa que devemos fazer  e’ supor a existência. Tudo que a nossa mente e’ capaz de construir, e’ pensável, por essência . Logicamente tudo o que não conseguimos construir com a nossa mente e’ impensável. Certo ?
- Certo !
- Errado ! Porque ? Porque será que todos os malditos discípulos caem sempre na mesma armadilha ? Aaah, mas será possível? Por favor preste atenção, seu ignaro, será possível que você não consegue entender que o fato de sermos capazes de pensar em alguma coisa não significa necessariamente que ela existe? O que e’ errado, não e’ ?
- Ao contrario, Mestre , e’ certo !
- Eu mato, eu esgano, eu estraçalho, eu arrebento, eu, eu...
- Mas , senhor, se podemos pensar nisto, isto tem de existir ! Como podemos pensar o que não existe ? Se pode ser pensado, existe !
- Olhe, meu jovem tolo, pensamento não materializa coisa alguma necessariamente. Esqueceu - se do Meio Termo Dialético ? Você esta’ querendo dizer que o que não e’ pensado não existe ? E estas paredes vão deixar de existir só porque você não pensou nelas? Vai aparecer uma linda mulher aqui na minha frente , só porque pensei nela? Ela existir na minha imaginação não significa necessariamente que seja real. Só existir para mim não tem sentido , a não ser para mim mesmo. Se isto não se reflete nas outras pessoas... isto e’ o Meio Termo Dialético. Ela pode existir para mim  e não existir para as outras pessoas, assim como pode existir para as outras e não para mim . Ainda assim, neste caso, não será a mesma mulher para todos, mas apenas uma mulher. Existem pensamentos coletivos, mas não idênticos. O impensável e’ algo relativo. Mas dizer que existe e inexiste e’ tolice ; porque ai você esta’ dizendo que ela existe e inexiste para todos, ao mesmo tempo, não esta’ sendo relativo, nem dialético . O mesmo se aplica ao pensável. Mas o que e’ absoluto em tudo isto e’ justamente o meio termo : o relativo . As coisas podem ser absolutamente relativas e relativamente absolutas, mas ai já e’ demais para sua pequenina inteligência, jovem aprendiz. O impensável não deixa de existir se pensado, porque em relação a outra referencia, outra pessoa, pode não ser pensável. E o impensável não existe só porque ele não possa ser pensavel , outra referencia pode pensa - lo .E’ um circulo vicioso , que só pode ser quebrado se lhe aplicarmos uma simples referencia dialética, uma relatividade ; afinal algo pode ser sem duvida ser relativamente pensável ou impensável, depende de quem o pensa. Não existe só o Tudo ou o Nada. Existe muita coisa ali no meio. Veja pela janela. Esta anoitecendo agora. Este momento e’ noite ou dia ? Tanto pode ser o dia noturno como a noite diurna, depende do quanto de dia e noite  você vê pela janela. Vamos ver se você aprendeu : Você pode pensar o e no impensável?
- Tanto posso como não. Eu posso ate pensar o seu impensável como o senhor pode pensar o meu e posso não conseguir também ; e claro, você igualmente. Portanto o impensável , enquanto absoluto em referencia  a todos os referenciais , inexiste , assim como, exatamente nos mesmos termos, o pensável. Mas ambos existem enquanto relativos e ambos são unos entre si e fazem parte do mesmo conjunto , uma só entidade , um só fato ! Sem falar que o Meio Termo Dialético condiciona a dialética do dilema Relativo versus Absoluto ; que também interagem entre si e também inexistem como unidades separadas , mas existem enquanto unidas em uma só . Depende do Critério e do Referencial !
- Não acredito! Eu não acredito ! Você aprendeu ! Acertou a resposta ! E’, e’  bom demais para ser verdade!
- Acabei de olhar a resposta em seu Grande Livro da Sabedoria !
- Ufff! Ahn... então não adiantou. Perdi tempo. Era de fato muito para ser real. Você como sempre não aprendeu nada. Só palavras vazias... que pena! Aaaaah! Quem sabe um dia você aprenda... Uuuuaaaaah! Sua consulta terminou. Pode se retirar, deixe - me dormir !

                                                           FIM 

Cristiano Camargo

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