-SPLAAAFT!
Soou o tapa na cara, e o rosto de Lune bateu
contra o vidro da porta do carro.
Momiji voou sobre a filha e começou uma sucessão
de tapas, beliscões e puxou os cabelos dela em fúria, sem ao menos dar tempo da
menina reagir.
A mãe dela pegou com as mãos as orelhas da
garota, e as torcia enquanto seu rosto se contorcia de raiva e seu olhar era
medonho. Ela balançou a cabeça da menina pelas orelhas e a chocalhou, gritando:
-Aprendeu agora, infeliz? Não é à toa que você
precisa mesmo de psicóloga, sua burra, retardada!
Lune, que até então estivera surpresa pela reação
que ela não esperava da mãe, atônita, agora mudou de expressão e começaram a
cair lágrimas de seus olhos. Aquela última frase calou fundo nela, e a magoaram
profundamente, e só agora a ficha do trauma caía e ela tremia de pavor. A
imagem de sua mãe parecia ter crescido assustadoramente e parecia mais
ameaçadora do que nunca.
Do rosto de Momij lágrimas também caíram, e ela
chocalhou mais uma vez a cabeça da filha pelas orelhas, já roxas:
-Eu tento fazer você entender, mas não consigo
! Eu tento te bater, mas não te atinjo !Eu tento te alcançar e não consigo ! Eu
tento te entender, mas você me desafia a todo momento e parece fazer de tudo
para eu odiar você, e parece ter gosto nisto, e eu odeio ter de odiar você, me
faz odiar ter de te amar, mas eu te amo e não consigo receber amor de você, é
tanta frustração...eu sou mesmo uma fracassada...estou desesperada !
Momiji abraçou
a filha com carinho, que permanecia em silêncio, de olhos esbugalhados, e
estado de choque.
A mente de Lune estava em silêncio e as
lágrimas aumentaram, e o esforço hercúleo dela de disfarçar o choro e não o
soltar de uma vez, não esta dando certo.A única frase saiu de seu pensamento
silencioso foi quando Momiji começou a acariciar seu rosto e a pedir desculpas
a ela sem parar: " A mesma mão que bate é a mão que acaricia".
E logo depois desta frase ecoar em sua mente
esvaziada, Lune explodiu num choro convulso e abraçou a mãe também.
Depois de algum tempo, as duas começaram a se
recompor e se separaram. E um silêncio espectral tomou conta do interior da
van.
Foram minutos de constrangimento e gelo que pra
as duas pareceram horas.Finalmente, Momiji conseguiu balbuciar:
-De...desculpe, filha, me perdoa...a culpa é
minha! Nunca poderia ter feito o que fiz, eu...eu errei...mas...mas...eu...eu
sou humana...e você sabe, humanos...humanos são falhos e erram...erram...droga,
eu estraguei sua consulta, você agora não está mais em condições psicológicas
de ir na doutora...
Lune não disse nada. Tirou o cinto de
segurança, abriu a porta e saiu do carro, calada, ainda com os olhos marejados,
e saiu caminhando sozinha pelas ruas, com ombros caidos, cabeça baixa, tronco inclinado levemente para a frente e passos arrastados...
A dor da mãe se multiplicou por mil.Para ela
aquela cena era como se ela tivesse perdido a filha, que a estivesse
abandonando para sempre e não a amasse mais!
Ainda aos prantos, com raiva de si mesma e se
culpando, Momiji dava murros no volante, inconformada. Sua vontade era de
correr atrás da filha, mas não tinha coragem,estava paralisada;por fim, decidiu
tentar se recompor e a muito custo ligou para psicóloga desmarcando a consulta
e remarcando-a para a semana seguinte.
Ela tentava a todo custo se convencer de que
Lune não fugira de casa, e que ela iria voltar ao anoitecer, como todos os
dias, e que talvez ela só precisava de uns momentos sozinha. Mas ver a filha
sendo engolfada pela multidão e desaparecer em meio a tanta gente trespassou-lhe o coração como um
tridente em chamas !
Depois de mais algum tempo, ligou o motor e
voltou para casa, lutando para prestar atenção ao trãnsito e não bater.
Ao ver o estado lastimável que Momiji estava,
Ruri correu a ligar para o pai, que voltou
correndo do trabalho pra socorrê-la.
Momiji ficou no quarto do casal chorando.
Kazuo chegou logo e ao ver esposa olhar para ele, abriu os braços, e
Momiji explodiu em lágrimas nervosas e o abraçou. Precisava daquele abraço mais
do que nunca, e os carinhos de Kazuo em seus cabelos lhe davam conforto e
alívio e aos poucos, a acalmaram, juntamente com as palavras doces do marido.
Só então, ela contou todo o acontecido a ele. Agora
ambos estavam sentados na beira da cama.
-Querida, não se preocupe, ela vai voltar. Não
é a primeira briga de vocês, nem será a última, estas coisas são assim mesmo. A
Lune fala certas coisas difíceis de aceitar e entender, mas são da boca para
fora. Ela vai cair em si e te pedir desculpas mais para a frente. Por hora ela
está traumatizada e você também, então vamos deixar a poeira abaixar, está
certo? Você não tem culpa de nada, aliás, culpa nem cabe neste episódio...
-Querido, você é tão compreensivo, tão
bonzinho, carinhoso...me faz me sentir tão bem, não é a toa que amo você !
-Obrigado, minha amada, eu também amo a você !
E os dois trocaram um longo beijo romãntico.
(por continuar)
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